A propaganda que aparece na campanha presidencial mostra o Brasil que gostaríamos que assim fosse.
Redes ferroviárias em construção. Como se não estivessem há muito tempo esquecidas. As obras, absolutamente pontuais, não conseguem ir além dos primeiros quilômetros. E, no entanto, se olharmos para as peças publicitárias expostas, elas estariam avançando de Norte a Sul e de Leste a Oeste, cruzando o cerrado, projetando-se para além das fronteiras.
As rodovias são modernizadas do dia para a noite. Difícil imaginá-las alongando-se na poeira, impraticáveis no Centro Oeste, abandonadas no Brasil profundo. Se calhar, estariam até se tornando “rodovias inteligentes”. E os portos? Estão em dia, com todos os gargalos históricos resolvidos. Já os aeroportos estariam também em processo de ampliação, como se há muito não estivessem com as obras paralisadas por determinação do Tribunal de Contas da União.
No saneamento, estaria havendo milagres. Há água encanada em abundância até nas regiões mais remotas. E o esgoto a céu aberto desapareceu. O serviço foi universalizado e toda casa priva desse benefício, que deveria ser um direito inalienável em favor da saúde coletiva.
Quando, no entanto, a propaganda some da telinha, a realidade escancarada aparece é um golpe na consciência (dos que a têm). As casas de adobe surgem na paisagem e a miséria se manifesta nas pequenas coisas necessárias ao esforço pela sobrevivência. Os rios imundos cruzam as cidades e envergonham regiões metropolitanas, expondo o exemplo maior, em São Paulo.
Em Alagoas, os desabrigados continuam em moradias improvisadas, desde as enchentes que destruíram diversas cidades e desorganizaram a existência de milhares de viventes. Então, constatamos: longe da propaganda, com a qual estão ludibriando o povo – há obras em curso, mas em ritmo absolutamente insatisfatório em relação às exigências reais – este é, em preto e branco, o Brasil que se constrói.
Fonte: Estadão