A arquitetura do mestre Oscar Niemeyer, que se definiu de corpo e alma nas obras da Pampulha – a Igreja de São Francisco de Assis, concluída em 1943, com painel externo de azulejo, de Cândido Portinari – consolidou-se com a construção de Brasília e foi ganhando contornos e curvas insuperáveis para além da imaginação, aqui e em outras terras.
Cada obra do mestre acabou constituindo uma surpresa estética. E, cada uma, traduz na concepção geral ou no pormenor, a visão política jamais dissociada dos resultados de sua criatividade. Haja vista o Memorial da América Latina, com as veias abertas na mão onde está espalmado o mapa do continente.
Ele aventurou-se, por conta do exílio, no regime militar, por outras geografias, deixando nos países por onde passou – França, Bélgica, Itália, Argélia – a marca de uma arquitetura que entusiasma pela forma e surpreende pelo arrojo do espaço construído. A Universidade de Constantine continua como obra exemplar da genialidade do mestre.
Contudo, nenhuma obra se faz sozinha. Nenhum projeto que ele elaborou seria colocado de pé caso não contasse com a capacidade técnica da engenharia. Mas esta não se manifestou e não aplicou seus recursos técnicos por acaso. Foi instigada e, mesmo, desafiada para isso.
E, por acreditar em suas possibilidades, diante da ousadia do arquiteto, a engenharia construiu monumentos: o prédio do Senado Federal, cuja cúpula invertida de 60 m de diâmetro repousa suavemente na laje; o próprio Memorial da América Latina, com a edificação da biblioteca, cujos apoios externos estão unidos por uma viga de 90 m de extensão; o edifício-sede da Cidade Administrativa “Tancredo Neves”, com mais de 100 m de comprimento, suspenso por tirantes e o Museu que leva o seu nome, em Niterói (RJ), dentre outras obras fundamentais na história da arquitetura brasileira, em diversas décadas.
Quando da construção de Brasília, Niemeyer contou com a colaboração de engenheiros geniais. Joaquim Cardozo, por exemplo, avançou madrugada adentro trabalhando no cálculo do edifício do Senado Federal e acabou encontrando a curva apropriada que resolveu o “pouso” da cúpula invertida na laje; José Carlos Sussekind calculou os prédios do Memorial da América Latina e da Cidade administrativa “Tancredo Neves”; e Bruno Contarini foi chamado a Argel onde aceitou o desafio de calcular a viga do prédio do Batiment dês Classes, da Universidade de Constantine, que não deveria ter espessura superior a 1,50 m. Nessa ocasião, engenheiros estrangeiros, que trabalhavam no cálculo, se recusavam a admitir que uma viga de tal importância para a edificação viesse a ser construída com aquela espessura. Niemeyer disse: “Se vocês não admitem isso, só me resta chamar engenheiros brasileiros. Eles calcularão a viga segundo o que está especificado no meu projeto”. Bruno Contarini foi lá e fez.
Oscar Niemeyer, portanto, foi o arquiteto do avanço da engenharia brasileira.
Fonte: Nildo Carlos Oliveira