Nildo Carlos Oliveira
A prefeitura paulistana decidiu: o carro deverá ser excluído. Agitou-lhe um cartão vermelho nas fuças. Daqui a pouco poderá estar sendo caçado, ainda mais do que hoje, por toda a cidade, como um animal perigoso e inadequado ao meio urbano. O aumento das faixas exclusivas e a previsão das limitações de garagens nas novas edificações, nas cercanias dos corredores, vão deixá-lo ainda mais a escanteio. Também, por que o seu uso foi tanto estimulado ao longo de décadas?
Em boa hora a FSP de hoje publica entrevista do epidemiologista Carlos Dora, coordenador do Departamento de Saúde Pública e Meio Ambiente da Organização Mundial da Saúde. Ele fala das vantagens dos modais de transporte sobre o veículo particular. Acha ele que o sistema de transporte que utiliza os corredores de ônibus, associado a espaços para pedestres e ciclistas, contribui para a saúde dos cidadãos. Concordamos. Mas, alto lá. Ele faz uma ressalva: os corredores de ônibus devem funcionar com alta eficiência, limpeza, conforto e boa informação para os usuários.
Mas os corredores, solitários, não podem constituir uma justificativa para se deixar de lado o planejamento e a construção de novas linhas de metrôs e de trens urbanos. Isoladamente, não constituem uma solução: apenas uma muleta do sistema. E ela não deve ser uma justificativa para que se deixe de considerar, como prioridade, a organização do espaço urbano, numa cidade secularmente planejada para o veículo particular.
Há dias estive no Rio participando, num centro de convenções, de um evento onde as palavras de ordem eram BRTs, trens, metrôs. Enfim, os diversos modais. À saída, à boca da noite, na ânsia de chegar ao Santos Dumont, eu e alguns companheiros não encontramos nenhum desses sistemas à mão. E, mais: não havia sequer um mísero táxi nas proximidades. O discurso ainda está longe, mas muito longe mesmo, da realidade. Tanto lá, quanto cá.
Fonte: Nildo Carlos Oliveira