Estradas deterioradas, sem condições ideais de tráfego e que mais atrapalhavam do que ajudavam o transporte de cargas no Brasil. Esse era o cenário em boa parte das rodovias que foram privatizadas a partir do final da década de 1990. Se o Brasil hoje é conhecido como um país rodoviarista, boa parte da fama pode ser creditada aos investimentos feitos pelas concessionárias a partir da abertura do setor, em 1995. Desde então, foram investidos R$ 13,3 bilhões nos trechos sob concessão.
Embora as 37 empresas privadas em operação comandem apenas 5,18% da malha rodoviária nacional, segundo dados da Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias (ABCR), a maior parte desses trechos encontra-se em grandes regiões produtoras e industriais. “A concessão é um meio de prestar um serviço adequado aos usuários”, afirmou o diretor-geral da Agência Nacional de Transporte Terrestre (ANTT), Bernardo Figueiredo, em entrevista à reportagem de PortoGente.
Os grandes investimentos realizados pela iniciativa privada nos últimos anos, aponta Figueiredo, são responsáveis pela preferência do modal rodoviário em detrimento aos concorrentes. “A concessão permitiu o aumento da competitividade das rodovias em relação aos demais modais.
Hoje, o caminhão demora menos tempo na estrada do que há 10 anos, gerando mais produtividade sem abertura de novas vias. Uns falam que o valor do pedágio joga contra as rodovias, massem ele as empresas não recuperariam os milhões investidos. Ao fazer as contas, percebemos que a agilidade e o aumento da produtividade nas estradas superam o custo com o pedágio. A rodovia brasileira vai até a casa do cliente, do transportador”.
odos os envolvidos com a cadeia logística nacional têm estudado as vantagens e desvantagens de cada modal de transporte no País para dotar a movimentação de cargas de maior eficiência. É o caso da Câmara Brasileira de Contêineres (CBC), presidida por Silvio Vasco Campos Jorge. Ele considera que as concessões ainda são incipientes, mas tendem a crescer em todo o País. O presidente da CBC ressalta a importância de a matriz de transportes ser competitiva, com todos os modais integrados e funcionando perfeitamente.
E para que o transporte intermodal seja competitivo, explicou ao PortoGente, precisa desfrutar de uma estrutura adequada de transbordo e de estocagem da mercadoria. Entretanto, os pátios destinados ao serviço no interior do País ainda são praticamente inexistentes. Para reverter a situação, são necessários pesados investimentos, que na maioria das vezes estão concentrados nas concessões rodoviárias.
No estado de São Paulo, por exemplo, a melhoria das condições de tráfego e de segurança nas rodovias foi sensível. São mais de 28 mil quilômetros pavimentados e prêmios concedidos pelas principais revistas especializadas no setor. Um dos principais destaques é o Sistema Anhanguera-Bandeirantes, administrado pela AutoBAn. A concessionária já foi eleita, entre outros prêmios, a melhor do País pela NTC & Logística e viu a Rodovia dos Bandeirantes ser considerada a melhor do Brasil em levantamento do Guia Quatro Rodas em 2006, 2007 e 2008.
De acordo com o gestor de atendimento da AutoBAn, Odair Tafarelo, 10.306.426 veículos passam por mês, em média, pelos pedágios do Sistema Anhanguera-Bandeirantes. Desse total, 21,6% são de caminhões, transportando cargas para a região metropolitana de São Paulo e, também, para o Porto de Santos, o principal da América Latina. Tafarelo destaca que a maior parte desse tráfego pesado tem como origem o interior paulista. Embora as mercadorias transportadas sejam bastante diversificadas, a AutoBAn registra que os principais produtos movimentados são materiais para construção civil, combustíveis, carnes, ferro, aço e açúcar.
“São 17 cidades importantes que a rodovia atravessa. A região metropolitana de Campinas, por exemplo, hoje representa 19% do PIB (Produto Interno Bruto) do estado. E a Bandeirantes contribuiu para que as cidades no seu entorno virassem polos geradores de indústria, propiciando a instalação de muitas fábricas e gerando carga para o País”.
Toda a qualidade embutida no serviço oferecido por esse modal dá motivação aos transportadores para continuar optando pelas estradas, opina Tafarelo. O modelo de concessão, para ele, é um absoluto sucesso e ainda garante ganhos para o governo. “O governo entendeu que deveria cuidar de saúde, segurança e educação. Com as rodovias concedidas à iniciativa privada, ainda pode contar com vantagens como o pagamento mensal de outorgas. Assim, o governo aufere boa arrecadação e pode aplicar em outras rodovias que não estão concedidas”.
Fonte: Estadão