Crescimento tímido da economia diminui demanda por aço

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Espremida entre um crescimento econômico abaixo do esperado e a concorrência acirrada dos produtos importados, a indústria siderúrgica brasileira atravessou um período de grandes dificuldades. Dados da época (2013) do Instituto Aço Brasil indicavam uma queda na produção de aço bruto, refletindo um cenário de baixo desempenho na economia nacional.

Segundo Carlos Loureiro, presidente do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Produtos Siderúrgicos (Sindisider), o fraco desempenho era “muito abaixo do que a gente imaginava”, forçando a revisão de metas de vendas para o setor.

Leia também: Cenário econômico internacional e restrições ao crédito contribuíram para fraco desempenho da indústria, diz economista

Os Fatores Críticos: China, Excedente Global e Importação de Aço Contido

O cenário de crise no setor siderúrgico era multifatorial e estrutural. Os principais fatores que ameaçavam o crescimento eram:

  1. Fraco Desempenho do PIB: Historicamente, a demanda de aço no Brasil cresce lentamente quando o crescimento econômico é inferior a 4%, conforme análise de Germano Mendes de Paula, professor da UFU.
  2. Concorrência Internacional: O setor enfrentava a falta de competitividade perante siderúrgicas de outros países, especialmente a concorrência chinesa, e um excedente global de mais de 500 milhões de toneladas na produção mundial de aço.
  3. Ameaça do Aço Contido: A crescente importação de aço contido – que chega ao país em forma de máquinas, veículos e equipamentos prontos – fazia com que as siderúrgicas perdessem clientes para produtos acabados.

O “Custo Brasil” e os Desafios Macroeconômicos

A solução para a crise ia além do desempenho do PIB, atingindo diretamente o chamado Custo Brasil. Em eventos setoriais, como o 24º Congresso do Aço, líderes empresariais apontaram as barreiras mais significativas:

  • Elevada Carga Tributária: Um fardo pesado para a competitividade internacional.
  • Baixo Investimento: Um patamar de investimentos baixo (na época, ao redor de 18% do PIB) limitava o crescimento da demanda estrutural.
  • Custo Elevado da Energia: Paulo Pedrosa (Abrace) destacou que o Brasil persistia entre os países com o custo de energia mais alto para a indústria, neutralizando esforços de desoneração.

O Dilema da Cotação do Dólar e a Indústria de Transformação

O Sindisider defendia que um patamar cambial mais alto (na época, sugerindo R$ 2,50) poderia frear as importações e aumentar a competitividade das usinas. No entanto, o setor se via preso em um impasse macroeconômico: enquanto as usinas de aço desejavam um dólar alto, a indústria de transformação (como a Anfavea), dependente de componentes importados, pedia uma cotação menor. Taxar os importados, por sua vez, aliviaria a siderurgia, mas espremeria a indústria a jusante.

As Reações das Gigantes Siderúrgicas

Diante do cenário adverso, grandes players do mercado buscaram alternativas estratégicas:

  • CSN (Companhia Siderúrgica Nacional): Em busca de aumento de escala e presença internacional, a CSN (Benjamin Steinbruch) estudava a compra de ativos da ThyssenKrupp (CSA e laminadora nos EUA).
  • Usiminas: Enfrentando alto endividamento, o grupo buscou equacionar dívidas através da venda de ativos não essenciais, como a Usiminas Automotiva.
  • ArcelorMittal: A gigante global anunciou a suspensão de projetos de expansão no mercado brasileiro, congelando investimentos significativos.

Para que a indústria siderúrgica brasileira voltasse a crescer, era necessário um crescimento econômico vigoroso e, principalmente, a melhoria da atratividade do investimento na economia brasileira de forma geral. O professor Germano Mendes de Paula alertou para o risco de seguir o exemplo da Austrália, que viu sua produção de aço diminuir drasticamente devido à dependência excessiva de importações na cadeia metal-mecânica. O futuro da siderurgia dependia de medidas que garantissem a competitividade e a proteção de sua cadeia produtiva.


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