A Amazônia é a prioridade na agenda brasileira da energia elétrica. É para as veias da região, os rios que afloram no mapa verde da floresta, que a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), a Eletrobrás, a engenharia brasileira e os grandes empreendedores privados desse segmento da infraestrutura concentram, hoje, a maior atenção.
Isso acontece como uma reviravolta no ciclo histórico, 100 anos depois que o engenheiro Cândido Mariano da Silva Rondon, um construtor de nações, como ficou reconhecido, encontrou as ruínas do Real Forte Príncipe da Beira, a maior relíquia histórica de Rondônia e chefiou a missão que construiu a linha telegráfica de Cuiabá a Santo Antônio do Madeira, coincidentemente, na mesma ocasião em que ocorria a epopeia da construção da Ferrovia Madeira-Mamoré.
Coincidentemente, também, a retomada da Amazônia como uma das prioridades para o desenvolvimento brasileiro traz à tona os fatos que ciclicamente despertam os interesses e a curiosidade internacionais, como aconteceu em 1914, quando Cândido Rondon foi designado para acompanhar o ex-presidente norte-americano, Theodore Roosevelt, na histórica viagem em que se descobriu o rio da Dúvida (nas fotos ao lado, é possível ver cenas dessa expedição e uma vista aérea da região amazônica). Este, por sinal, é nome do livro que a jornalista Candice Millard, de Kansas City, escreveu para rememorar os passos daqueles dois homens exemplares pelas selvas da Amazônia.
Roosevelt se tornaria um admirador de Rondon, sobretudo, do conceito filosófico que inspiraria todos os seus atos e que está expresso, resumidamente, na frase proferida, em relação às comunidades indígenas: "Morrer, se preciso for; matar, jamais". – O tema abrangente – Rondon, Roosevelt, Amazônia – ganha simbolismo e, por isso, justifica o título da capa desta edição da revista.
Em uma das matérias que estamos publicando, o presidente da EPE, Maurício Tolmasquim, afirma textualmente: "Estamos indo para a Amazônia". Compreensível. É lá que estão em andamento os grandes projetos para aproveitamento do que ainda restará do potencial hidráulico brasileiro, depois que forem concluídas as obras das usinas do rio Madeira (atualmente em construção), de Belo Monte, no rio Xingu (finalmente obteve o licenciamento), e os empreendimentos dos complexos Teles Pires e Tapajós, já inventariados.
É possível que as mudanças climáticas sinalizem no futuro alterações no regime dos rios da região. Mas, enquanto isso não acontecer e o potencial hidráulico prosseguir como a grande promessa real de oferta energética para a economia brasileira, complementada, conforme diz Tolmasquim, pelas demais fontes de energia pesquisadas e exploradas, a Amazônia continuará como o ponto de convergência dos recursos humanos e técnicos que têm ajudado a consolidar a experiência da engenharia brasileira na área hidrelétrica.
Rondon, para Roosevelt, constituiu um modelo de homem e engenheiro que ele admiraria durante o resto de sua vida. Considerava-o disciplinado, estudioso, e capaz de grandes ações humanitárias, motivo pelo qual o incluiu como um dos quatro maiores exploradores de seu tempo, ao lado de Roald Amundsen, Richard Byrd e Robert Peary.
Que as ações da engenharia brasileira na Amazônia leve em conta não a forma devastadora de ingresso na floresta, como o fez no passado, mas considerando os ensinamentos das expedições memoráveis do "construtor de nações", Cândido Mariano Rodon.
Fonte: Estadão