Tradicionalmente a Revista O Empreiteiro dedica uma de suas edições às Empresas de Engenharia do Ano. Desta vez a edição é dedicada também aos profissionais que, isolada ou coletivamente, pesquisam e encontram soluções criativas para a arquitetura, a engenharia e as graves questões urbanas brasileiras. No fundo, a intenção da revista é homenagear, através das empresas, das obras e dos profissionais citados, todas as demais empresas e profissionais que continuam a superar adversidades para continuar a desempenhar suas atividades e contribuir para o crescimento do País.
Nas últimas três décadas não tem sido fácil, nessas áreas, a sobrevivência de empresas ou de profissionais. As obras escassearam e competentes equipes de engenheiros e arquitetos foram sacrificadas. Consideramos correta a avaliação de um dos nossos entrevistados de que houve um momento, depois de meados dos anos 1980, em que "a engenharia brasileira foi praticamente dizimada". Ela teve de se reinventar para sobreviver. Não fosse a participação de investidores privados, pelo menos em algumas áreas específicas da infra-estrutura brasileira, ela não teria se recuperado.
A prova mais evidente da situação pela qual ainda passa a engenharia do País está em recente levantamento elaborado pelo Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva (Sinaenco), segundo o qual obras das mais importantes, incluindo pontes, viadutos e estádios de futebol, se encontram com "prazo de validade vencido" . A tragédia que acaba de ocorrer no Estádio da Fonte Nova, em Salvador (BA), justamente quando o Brasil é escolhido para sediar a Copa do Mundo de 2014, corrobora o prognóstico daquele inventário técnico.
Nesta edição, a Revista elegeu a Engevix Engenharia, com sede em São Paulo (SP) e Via Engenharia, com sede em Brasília (DF), como as Empresas de Engenharia do Ano.
A Engevix tem uma trajetória que se confunde com a história da engenharia brasileira dos anos 60 até aqui. Viveu as diversas crises econômicas que debilitaram o poder de investimentos do Estado brasileiro e teve de adotar estratégias radicais para prosseguir em suas atividades. Cristiano Kok, que assumiu a empresa em 1970, conta que, entre um modelo que lhe garantisse um crescimento menor, com menos riscos, a Engevix preferiu aquele que lhe vem possibilitando crescer mais, embora com riscos maiores. Hoje, além de haver criado uma diretoria específica para obras no exterior, ela investe em negócios próprios na geração de energia e em linhas de transmissão. Mostrou que a ousadia é também uma estratégia de sobrevivência.
A Via Engenharia, criada em 1980 no Distrito Federal, consolidou-se a partir da solidez financeira, melhoria tecnológica e gestão responsável, conforme assinala Fernando Queiroz, presidente da empresa. Ela estendeu seu raio de aço para muito além do perímetro de Brasília e hoje tem obras em vários Estados, tanto na área da infra-estrutura quanto no mercado imobiliário.
Como Profissionais de Engenharia do Ano destacamos o arquiteto João Valente Filho (Valente,Valente: Arquitetos), de São Paulo, e o engenheiro calculista Gilberto Mascarenhas Barbosa do Valle, que fundou a Projest, no Rio de Janeiro.
João Valente foi escolhido por conta de uma visão urbanística de conjunto para ajudar a resolver o caos urbano de São Paulo. Ele é um dos autores da polêmica proposta de uma via elevada na Marginal direita do Tietê e integrante da equipe das obras do ComplexoViário Real Parque. Tanto a proposta da via elevada quanto as obras do complexo viário contam com a participação de outros profissionais, dentre eles o engenheiro Catão Ribeiro, cuja engenhosidade contribuiu para a construção da ponte estaiada sobre o rio Pinheiros. Algumas das soluções estruturais ali adotadas são consideradas inéditas.
E homenageamos o engenheiro Gilberto Mascarenhas Barbosa do Valle, 75 anos, um dos vencedores da 5ª edição do Prêmio "Talento Engenharia Estrutural". Com notáveis obras em seu currículo, ele elaborou o cálculo estrutural do Centro Cultural "Oscar Niemeyer", em Goiânia e se insere entre os engenheiros que ajudam na construção do Brasil moderno.
Fonte: Estadão