Mesmo assumindo a liderança nacional na produção de grãos, ultrapassando o Sul do País, segundo o IBGE, a região Centro-Oeste continua carente de soluções para problemas históricos de infraestrutura Joás Ferreira Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, que compõem a região Centro-Oeste do Brasil, junto com o Distrito federal, conquistaram uma importante marca na produção de grãos. Assumiram a primeira posição nesse quesito, ultrapassando os estados do Sul do País que, tradicionalmente, dominavam esse segmento da agricultura nacional. Particularmente, a produção de soja em Mato Grosso, segundo Carlos Fávaro, presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja), já vem batendo seguidos recordes, safra após safra, “contribuindo para manter positiva a balança comercial brasileira”. Segundo o dirigente agrícola, a obtenção de um resultado positivo como esse não pode camuflar dificuldades renitentes que afetam o setor. “São inúmeros os avanços obtidos pelo setor, mas as principais dificuldades enfrentadas ainda estão relacionadas à falta de infraestrutura e de logística para escoamento da produção”. Este é com certeza, de acordo com Fávaro, o maior gargalo para aumentar a competitividade dos produtores mato-grossenses. *Frete caro e rodovias comtrechos impraticáveisdificultam o escoamentoda produção Nos cálculos da Aprosoja, o estado tem um grande potencial de ampliar a produção, sem fazer novos desmatamentos, só avançando sobre áreas de baixa produção pecuária. “É possível integrar lavoura e pecuária, produzindo-se carne, grãos e fibras. Mas isso só vai acontecer de forma mais intensa quando tivermos resolvido os problemas de infraestrutura e de logística”, destaca. Localizado na região central do território brasileiro, o MT conta com vias de escoamento muito ruins. Atualmente, as principais rotas são rodoferroviárias, para o porto de Santos (SP), e rodoviária, para os portos de Paranaguá (PR), São Francisco do Sul (SC) e Porto Velho (RO). *Fávaro: “Resultado positivo nãopode camuflar dificuldades queafetam o setor” Esses portos estão, em média, distantes cerca de 2 mil km do Mato Grosso. Nos Estados Unidos, por exemplo, compara Carlos Fávaro, a distância média entre as regiões produtoras e os portos é de mil km, sendo que 60% da produção norte-americana é transportada por hidrovia e 35%, por ferrovia. “Já podemos ver nas estradas mato-grossenses verdadeiros trens sobre rodas que são os caminhões ‘bitrem’, um atrás do outro, quilômetros e quilômetros. Isso vai provocar um colapso, com toda a certeza”. Saída pelo Norte Uma parte da produção, cerca de 17%, vai por hidrovia para o Norte. A vocação do MT, de acordo com a Aprosoja, é exportar pelos portos do Arco Norte, de São Luiz (MA) até Itacoatiara (AM), passando por Vila do Conde (PA), Santarém (PA) e Santana (AP). “Quando isso acontecer, nós seremos muito mais competitivos. Vamos melhorar a renda do setor e do cidadão nesses estados, por onde passarmos com a safra, e vamos desafogar os portos do sul”, destaca Fávaro. Mas, segundo ele, para que isso aconteça, ainda faltam vias de acesso. Alguns corredores, finalmente, estão chegando à região, como BR-163, BR-158, BR-242 e Ferrovia de Integração do Centro-Oeste (Fico). O Mato Grosso não pode, entretanto, descartar sua verdadeira vocação de transporte, que é a hidrovia, na opinião de Fávaro: “Nós temos dois atributos fundamentais para consolidar as hidrovias: rios navegáveis e produção agrícola. Lá estão, lado a lado, os rios Teles Pires, Juruena e Araguaia e as áreas plantadas”. Para o presidente da Aprosoja, o que falta é boa vontade. “Não é tão caro, assim! Com R$ 9 bilhões, é possível fazer o Centro-Oeste brasileiro ser competitivo. Embora seja muito mais barato implantar hidrovia que ferrovia, é preciso ter em mente que todos os modais se complementam. O problema é que se usa mais o transporte rodoviário e esse é o pior de todos os modais. Não é necessário acabar com as rodovias, pois precisamos delas para sair da fazenda. O interessante é a integração dos três modais. É isso que vai dar eficiência para Mato Grosso”. Financiamento e crédito Em relação aos financiamentos e acesso ao crédito, para viabilizar a produção agrícola, Fávaro diz que há, pelo menos, três safras a rentabilidade dos produtores vem melhorando, o que tem incentivado os investimentos. No entanto, o setor ainda sofre com o endividamento: “Muitos produtores ainda enfrentam processos na Justiça para sanar esses problemas. Apesar da redução da dívida rural, esse ainda é um fator preocupante e, para evitar outra bola de neve, os produtores precisam ter cautela na hora de tomar novos créditos”. O crédito ainda não é uma realidade para todos os produtores que, na sua maioria, têm problemas financeiros. Mas a tendência é que eles usem menos crédito para fazer investimentos ou custear a produção. “Por conta da boa rentabilidade das últimas safras, o produtor está usando mais recursos próprios, em vez de tomar de tradings ou de bancos”, conclui. O levantamento mais recente, apresentado pelo Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), indica que o total disponibilizado pelos próprios produtores aumentou 22%, observados na safra 08/09, para 35%, na última temporada agrícola. A participação das multinacionais de fertilizantes e grãos diminuiu de 50% para 18% no mesmo período. *As hidrovias são uma solução econômica,mas a carência de portos fluviais e deeclusas para ampliar as vias navegáveis vãoperenizando os problemas Fonte: Padrão