Empresa turca mira 2GW no próximo leilão de energia e reforça plano de expansão no Brasil

Empresa turca mira 2GW no próximo leilão de energia e reforça plano de expansão no Brasil

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A multinacional turca Karpowership, reconhecida mundialmente por sua atuação no setor de geração de energia elétrica por meio de usinas flutuantes (powerships), confirmou sua intenção de registrar até 2 gigawatts (GW) em projetos no próximo leilão de reserva de capacidade organizado pelo governo brasileiro. Também há interesse pelo leilão dos sistemas isolados, marcado para setembro. O anúncio foi feito por Beyza Özdemir, diretora comercial da companhia para as Américas, durante sua recente visita ao Brasil. 

A movimentação da Karpowership ocorre em um momento de crescente atenção à segurança energética e à necessidade de soluções flexíveis para suporte ao sistema elétrico nacional, especialmente diante dos desafios da transição energética e da intermitência das fontes renováveis. O leilão de energia reserva tem como objetivo assegurar a capacidade de atendimento à demanda futura, especialmente em situações de pico de consumo ou variações climáticas que afetem a produção de energia renovável.

Nosso objetivo é contribuir com a segurança energética do Brasil, oferecendo tecnologias de rápida resposta e soluções flexíveis de despacho”, afirmou Özdemir. A executiva destacou ainda que a empresa estuda oportunidades de aquisição de ativos da Eletrobras, o que sinaliza uma atuação mais robusta e duradoura no mercado brasileiro.

A relação da Karpowership com o Brasil já é consolidada e considerada estratégica. O país foi palco do que a empresa classifica como o projeto mais rápido de implementação de powerships no mundo: foram quatro usinas térmicas flutuantes conectadas à costa brasileira, além de um FSRU (unidade flutuante de regaseificação) e mais de 100 licenças ambientais e operacionais emitidas em tempo recorde.

Segundo a diretora, a atuação no país já gerou entre 2.000 e 3.000 empregos diretos e indiretos, reforçando o impacto positivo da companhia na economia local. A estrutura montada no Brasil também é vista como base operacional para a expansão da Karpowership na América do Sul, onde a empresa já atua em mercados como Colômbia, República Dominicana, Cuba, Argentina e Guiana, esta última atendida com três projetos que juntos abastecem cerca de 80% da demanda energética nacional.

Gás natural, inovação e transição energética

A Karpowership tem reforçado sua aposta no gás natural como combustível de transição energética. Em parceria com a Petrobras, a empresa mantém um memorando de entendimento para colaboração no uso de gás natural e combustíveis alternativos, incluindo soluções híbridas que combinem flexibilidade operacional e redução de emissões.

Além disso, a empresa está investindo em tecnologias emergentes, como sistemas embarcados de inteligência artificial, dessalinização e captura de carbono. Essas iniciativas têm como objetivo tornar a geração térmica mais eficiente e sustentável. Entre as metas ambientais da companhia está a redução de 30% das suas emissões até 2030, além do desenvolvimento de projetos de reflorestamento e pesquisa aplicada em eficiência energética.

Durante o ciclo de atividades preparatórias da COP30, que será sediada no Brasil, a Karpowership planeja apresentar suas soluções tecnológicas e defender o papel estratégico do gás natural na transição energética global. “O evento será uma plataforma essencial para apresentar soluções híbridas, sustentáveis e alinhadas ao novo mix energético”, afirmou Özdemir.

Embora sua principal atuação ainda esteja centrada na geração térmica flutuante via GNL, a Karpowership está diversificando sua atuação com projetos de energia solar e iniciativas em hidrogênio verde. Esses investimentos apontam para uma atuação de longo prazo em países emergentes com crescente demanda energética e necessidades de soluções integradas entre geração, logística de combustível e operação em larga escala.

A participação no leilão de energia reserva será, portanto, mais um passo dentro de uma estratégia que combina presença local, inovação tecnológica e adaptação às necessidades específicas dos países onde atua. No Brasil, essa abordagem poderá representar uma alternativa importante para assegurar a estabilidade do sistema elétrico, especialmente diante da expansão da geração intermitente e das exigências ambientais crescentes.

Dificuldades ficaram para trás, diz empresa

Hoje, as usinas estão disponíveis para atender o sistema elétrico brasileiro e têm sido demandadas a operar com certa frequência. As dificuldades ficaram para trás e Beyza defende que elas já mostraram seu valor. “Demonstramos nossa importância para o sistema brasileiro, estamos verificando constantemente as principais usinas do sistema e vimos que as plantas da Karpowership já mostraram ser as mais flexíveis de toda a rede elétrica, com rápida rampa de aceleração”, diz, citando que outros empreendimentos, embora com rampas de aceleração semelhantes, em torno de 13 a 15 minutos, enfrentam restrições operacionais ou operam com combustíveis mais caros e poluentes.

Embora saliente a complexidade do processo enfrentado, que exigiu a realização de “mais de 1 mil estudos” para a obtenção de “mais de 50 licenças, entre autorizações estaduais, federais, municipais”, além da negociação com proprietários de terras e comunidades locais , Beyza avalia que os percalços fizeram parte do aprendizado da companhia no País e agora está pronta para novos saltos. “Acho que o Brasil, com as agências e autoridades bem estabelecidas, está em um dos mercados mais desenvolvidos do mundo, parte do regramento setorial precisa de modernização, mas considero positivos os esforços para ajustar as normas às exigências de mercado”, completa a executiva.

Amapá é visto como estratégico

Enquanto aguarda o avanço dos trabalhos governamentais para viabilizar os próximos leilões, a Karpowership busca novas potenciais compras. Recentemente, adquiriu da Eletrobras a termelétrica Santana, movida a óleo diesel. Localizada no Amapá, a usina não está operacional, mas deve passar por uma recuperação. A meta é que o empreendimento retome essa condição ainda em 2025, possivelmente com uma migração para o biodiesel. A empresa também avalia uma possível troca de combustível para o gás natural. 

Beyza classifica o Amapá como uma localização estratégica, com grande oportunidade de crescimento, tendo em vista a proximidade da Margem Equatorial e o desempenho da empresa na vizinha Guiana, onde a Karpowership opera desde o ano passado com navios usinas. Após ter participado de mais uma licitação recentemente, a empresa vislumbra implementar novos projetos e ter até 80% da demanda do país sendo suprida por suas soluções. “O Amapá é outra Guiana, a ‘Guiana Brasileira’, vemos como estratégico, em linha com nossas atividades de gás e também com nossa expertise em energia elétrica”, diz.

Regaseificação está também na mira

Em outra frente de interesse, a companhia, que detém cerca de 20% de participação no mercado global de unidades flutuantes de armazenamento e regaseificação (FRSU, na sigla em inglês), avalia a implantação de instalações deste tipo em várias localidades do País, em parceria com players locais, mas não dá detalhes sobre as oportunidades na mesa.

No ano passado, a empresa assinou um memorando de intenções com a Petrobras para parcerias nas atividades de liquefação e regaseificação, além de armazenamento de gás natural, mas, segundo a executiva turca, ainda não há um projeto definido. Ela comentou, no entanto, que recentemente as duas empresas discutiram também a possibilidade de atuar com novas tecnologias e combustíveis alternativos.

Entre os interesses da Karpowership para desenvolvimento no Brasil estão o etanol e hidrogênio. Ainda na frente de energias renováveis, a empresa, que já tem parques de geração solar distribuída no Rio de Janeiro, avalia projetos em outros Estados, como Minas Gerais.

BOX

Térmicas flutuantes:

As “quatro usinas flutuantes da Karpowership” no Rio de Janeiro são quatro navios-cargueiros convertidos, conhecidos como powerships, que funcionam como usinas termoelétricas modernas. Eles estão ancorados na Baía de Sepetiba, no município de Itaguaí, e operam com gás natural. No Brasil, esse projeto faz parte do contrato de Energia de Reserva da ANEEL (leilão de 2021), com início dos testes e operação em 2022 

Os powerships são embarcações equipadas com usinas completas — turbinas a gás, motores, subestação, armazenamento de combustível — montadas diretamente sobre o navio. Eles são soluções portáteis que podem ser ativadas em até 90 dias, sem a necessidade de infraestrutura terrestre . Os powerships se adaptam ao sistema elétrico de cada país, organizando o plug and play das embarcações (powerships) com os sistemas de baixa e média tensão. Toda carga da capacidade instalada = no Brasil, 560MW – pode ser gerada em apenas duas horas e os powerships são considerados um dos projetos mais rápidos de geração em rampagem do mundo.

  • Quatro unidades flutuantes operando com gás natural.
  • Capacidade total de 560 MW, ou seja, cerca de 140 MW por navio 
  • Energia transmitida via linha marítima de transmissão com cerca de 14,6 km, conectando-se à subestação da Furnas.

Por que adotá-las?

  1. Rapidez: podem entrar em operação em semanas, muito mais rápido do que usinas terrestres convencionais
  2. Flexibilidade: são unidades móveis que podem ser “desligadas” e remanejadas conforme necessidade energética .
  3. Eficiência: utilizam ciclo combinado e gás natural, fonte mais limpa e eficiente que o óleo pesado, além de serem integradas (subestação, combustível, operação e manutenção).
  4. Segurança energética: garantem energia confiável e firme, complementando fontes renováveis e ajudando o Brasil a evitar apagões .

Perfil Beyza Osdemir

Beyza Ozdemir é Diretora Regional de Operações Comerciais da Karpowership para as Américas, além de desempenhar funções estratégicas no gabinete do CEO e integrar o Comitê de Compliance da Karadeniz Holding, acionista majoritária da Karpowership.

Ela possui 18 anos de experiência no setor, sendo os últimos 13 anos dedicados à Karpowership, onde ocupou cargos estratégicos. É formada em engenharia e possui MBA.

Ao longo de sua trajetória profissional no Sudeste Asiático, África, Oriente Médio e América do Sul, Beyza atuou junto a diversas instituições, incluindo autoridades governamentais e grandes players da indústria de energia.

Ela participou de mais de 7 GW em projetos de geração de energia (Powerships, turbinas a gás de ciclo combinado e unidades solares) e de 10% do mercado global de FSRUs, abrangendo desde a construção até os aspectos regulatórios e operacionais, além de negócios em joint venture do grupo.

Beyza possui uma ampla rede internacional ativa nos setores de energia e marítimo, com vasta experiência intercultural em posições de liderança na Ásia e América do Sul.


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