Edição do Fórum Infra 2024 impressionou pelo público – maciço debaixo de chuva contínua – mas também pelo conteúdo de suas palestras. Abrindo a premiação do Ranking de Engenharia Brasileira deste ano, o evento foi organizado pela Revista O Empreiteiro, que aconteceu no dia 27 de setembro, no Centro Britânico Brasileiro, em Pinheiros, São Paulo. Na ocasião, também foi lançada a edição de nº587 da revista, com o Ranking de Engenharia Brasileira 2022, dividido em construtoras, projetistas, montagem industrial e serviços especiais de engenharia. A premiação deu destaque a 36 empresas de Engenharia pelo desempenho dos anos recentes e representatividade nas economias regionais. Compondo o 5º Fórum Infra 2024, uma série de palestras de concessionárias e empresas estatais de infraestrutura, abordaram os novos projetos e investimentos em projetos de Saneamento, Transporte e Energia. Ao todo, foram 13 apresentações de empresas que mostraram suas obras e projetos relevantes que vem sendo executados e ainda a programação para os próximos anos. Moderado pelo consultor engenheiro Sérgio Palazzo, o fórum teve a maioria dos projetos apresentados engajada nos compromissos do Pacto Global ESG – governança ambiental, social e corporativa. As obras de infraestrutura também mostraram como contribuem para melhorar a qualidade de vida da população.
ENERGIA PRIORIZA AS FONTES RENOVÁVEIS
Principal companhia dedicada a linhas de transmissão no País, a Isa Cteep participou do evento e apresentou o novo projeto de sistemas de armazenamento em baterias, o primeiro no setor. Segundo o palestrante Ferdinand do Vale, gerente de execução e projetos de leilão da Isa Cteep, o projeto nasceu a partir de um atraso das obras de transmissão em 2017, causando dificuldades de atendimento no Litoral Sul de São Paulo. Aí se criou a solução para evitar a interrupção no fornecimento de energia. A companhia reforçou a confiabilidade do sistema com o armazenamento em baterias que está sendo construindo na subestação Registro (SP) para atender o litoral sul e deverá ser entregue em novembro deste ano. Já a Associação Brasileira de PCHs e CGHs falou da importância das PCHs e o desafio de reposiciona-las como fonte renovável: “As usinas solares são importantes, são sim, mas não tem sol à noite, então elas não podem sobreviver sozinhas. O mercado está carente de investimentos sim, mas as térmicas são mais Mais do que engenharia, os benefícios para as pessoas caras. Então, temos que mudar esse preconceito sobre as PCHs como o patinho feio do setor, porque há grande número de sítios apropriados para a construção desse tipo de usina, uma vez obtida a licença ambiental”, defendeu Ademar Cury da Silva, vice- -presidente da ABRAPCH. Em seguida, foi a vez da Green Yellow defender a geração de energia através de painéis solares. A palestra foi ministrada pelo diretor-presidente da Green Yellow no Brasil, Marcelo Xavier, abordando o tema “Perspectivas da Energia Solar no Brasil”. A companhia, que possui 64 fazendas solares e clientes como a rede Assaí, Claro e Drogaria São Paulo, comparou o crescimento de geração da energia solar distribuída e concentrada, apontando que há um gigantesco potencial ainda a ser aproveitado, e que o grande impulsionador no momento é o ESG, que mobiliza grandes e médios consumidores. Finalizando o tema energia, a 2W destacou o crescimento da geração eólica e mostrou a construção do Complexo Eólico Kairós, no Ceará. Representada por Luís Fernando Rahuan, Head de Implantação de Projetos Eólicos e Solares, a 2W mostrou o grande potencial de crescimento visualizado com a abertura do mercado livre de energia. A empresa estima que, nos próximos anos, todos os consumidores de energia, inclusive os residenciais, poderão aderir ao mercado livre, projetando com isso elevado crescimento neste setor. Em seguida, a apresentação discorreu sobre o pipeline de projetos de geração de energia da 2W. A empresa pretende investir para produzir 1,4 gigawatts em parques eólicos e solares até 2025. Para finalizar, foi apresentado o empreendimento Kairós Wind, o segundo parque eólico em implantação pela 2W. As obras iniciaram-se em agosto e o complexo deve gerar 261MW. O palestrante Luís Fernando Rahuan contou que os aerogeradores do Complexo Kairós são da WEG e Vestas e que a previsão para início de operação é junho de 2023.
MOBILIDADE URBANA MUDA A VIDA DAS PESSOAS
Mudando para o tema transportes, a concessionária Eixo SP apresentou sobre a concessão rodoviária de mais de 1.200 km no estado de São Paulo—um corredor conhecido como “Pipa”. A operação da Eixo iniciou-se em 2020, permanecendo por 30 anos de concessão. As rodovias abrangem 62 municípios do estado de São Paulo, ligando Piracicaba a Panorama. A palestra foi apresentada pelo diretor-superintendente de Engenharia da Eixo-SP, Robinson Ávila. Dentre os investimentos já realizados pela Eixo SP na concessão, foram 535 km de duplicações; 72 km de contornos urbanos; 23 km de vias marginais, além de passarelas, calçadas e ciclovias. A estatal Valec mostrou o andamento das concessões da FNS, Fico, Fiol I e II, e também o novo marco legal sobre autorização para novas obras ferroviárias – quer abriu novas perspectivas para o setor. A empresa informou ainda que já existem 80 pedidos de autorização ferroviária protocolados de 32 players de mercado, projetando investimentos de aproximadamente de R$ 244, 6 bilhões de reais. A Vinci Airports relatou suas obras previstas para sete aeroportos em quatro estados da Amazônia, incluindo investimentos focados em sustentabilidade, como reuso de água e destinação do lixo gerado nos terminais. Os aeroportos, onde a Vinci iniciou suas operações em janeiro deste ano, são: de Manaus, Boa Vista, Tefé, Tabatinga, Cruzeiro do Sul, Rio Branco, Porto Velho e Salvador. A palestra foi apresentada pelo diretor técnico da Vinci Airports no Brasil, Yann Le Bihan. Segundo o diretor, seu projeto é reduzir as emissões de carbono e adotar cada vez mais medidas ambientais nos aeroportos como o reuso de água e reciclagem do lixo. A modernização desses aeroportos não apresentam complexidade de engenharia mas demanda extenso planejamento e logística numa região remota e de infraestrutura deficiente.
Segundo apresentação da Vinci, a concessão dos aeroportos, que foi assinada por 30 anos, prevê R$ 840 milhões de investimentos até outubro de 2024, sendo no total R$ 1,4 bilhões pelos próximos 30 anos. Em transporte metropolitano, os principais temas falaram sobre os benefícios aos usuários. A Acciona, Systra e CPTM falaram sobre seus projetos de transporte de massa e a implantação de linhas de metrô e trens, focando nos benefícios dos modais para a população. A Acciona apresentou dados sobre a retomada das obras da Linha 6 – Laranja, que fará integração entre os modais metropolitanos (terminais de ônibus, metrô e CPTM), para ligação da Zona Noroeste ao Centro de São Paulo. O palestrante, o engenheiro Emílio Símon Póvoa, gerente de Administração Contratual da Acciona, detalhou algumas soluções de engenharia na construção de 15, 3 km de túneis e 15 estações, trajeto a ser atendido por 22 trens , transportando uma média de 633 mil passageiros por dia. Já a Systra apresentou o PITU – Plano Integrado de Transporte Urbano da RMSP, um programa para os próximos 20 anos, estudando a contribuição dos diversos sistemas de mobilidade urbana no cenário futuro, a partir do cenário socioeconômico atual. A Systra tem extensa experiência nesta área pela atuação na Região Metropolitana de Paris, na França, atendida por uma das mais extensas redes metroviárias do mundo. Já a CPTM mostrou a importância da extensão da Linha 9 – Esmeralda para a população de Varginha, em São Paulo. A linha irá abranger o trecho de Grajaú até Varginha e estima atender uma demanda de 111 mil passageiros por dia. Sobre as obras, além da construção de três viadutos, um terminal rodoviário e toda estrutura para dar mobilidade àquela região, o palestrante Edgar Fressato Carneiro, Assessor Executivo da Diretoria de Engenharia, Obras e Meio Ambiente da CPTM, destacou a recepção dos moradores sobre o novo meio de transporte. “Varginha fica a 30 km do centro de São Paulo. Ao chegar para examinar a área da obra com um drone, ainda no início dos estudos, um garoto no local perguntou o que era e eu contei sobre a nova linha do metrô. Ele respondeu que agora finalmente iria conhecer São Paulo. Diante desse comentário vimos que o mais importante desses trabalhos de infraestrutura não reside somente nos avanços da engenharia, mas sim nos benefícios que eles podem trazer à vida das pessoas”, comentou Edgar.
TRATAMENTO D’ÁGUA ACABA COM CÓLICA INFANTIL EM MACEIÓ
Também destacando a população em primeiro plano, a BRK Ambiental fez sua apresentação dentro do tema saneamento sobre os impactos de sua concessão na região metropolitana de Maceió. O palestrante Herbert Dantas, Diretor Operacional da BRK Ambiental, relatou a situação precária que viviam as 13 cidades daquela região nos serviços de saneamento. “Lá as crianças faltavam às aulas por causa de cólicas pela água que consumiam sem ser tratada. Quando perguntamos hoje o que mudou na vida deles, eles respondem que a água está sem gosto. Sim, porque antes era gosto de barro ou outras coisas devido à falta de tratamento. E agora as crianças não tem mais cólicas. Quando falamos em saneamento básico não envolve somente infraestrutura, mas dar saúde e qualidade de vida à população”, frisou Hebert.
CONCESSÕES RODOVIÁRIAS VÃO PROSSEGUIR
Sobre o futuro das concessões rodoviárias, apresentado pelo Grupo Planos, o estudo de mercado aponta as tendências, concessões recentes e as rodovias federais estaduais que ainda aguardam projetos de engenharia. Segundo a consultoria, mais de 21 mil km de rodovias federais estão em estudo pelo governo, estudos que demoram cerca de dois a três anos até chegarem na fase de concessão. Questionado pelo engenheiro Sérgio Palazzo sobre o futuro das concessões rodoviárias após as eleições, o palestrante Eduardo Padilha, Sócio Diretor do Grupo Planos, disse que a solução está nas privatizações. “Uma coisa é certa, o governo não tem dinheiro. Independente dos nomes vitoriosos nas eleições, os serviços nas rodovias sempre vão acabar sendo privatizados depois, porque o governo não tem recursos para investir. Nós precisamos da iniciativa privada para evoluir”, respondeu Padilha.