“Hoje, na construção civil, engenheiras, técnicas em segurança do trabalho, pedreiras e instaladoras são funções cada vez mais desempenhadas pelas mulheres nos canteiros de obras, inclusive em cargos administrativos ou no comando das empresas”. A declaração é de Maristela Honda , 70, a primeira mulher a assumir a presidência do SECONCI – Serviço Social da Construção Civil do Estado de São Paulo – desde 1964. Em entrevista exclusiva à OE no Dia Internacional da Mulher, 8 de março, Maristela falou do aumento da presença feminina na construção civil.
À frente do SECONCI, Maristela trabalha há mais de 20 anos dentro do sindicato da construção Civil. Foi inclusive a primeira diretora regional do Sinduscon no Estado de São Paulo. Em entrevista à OE, Maristela diz sentir lisonjeada por ser a primeira mulher a assumir a presidência do SECONCI: “Sinto-me bastante gratificada e responsável, não apenas como mulher, e sim como qualquer pessoa que, por sua trajetória profissional e associativa, obteve o reconhecimento de seus pares e foi eleita para dirigir a maior instituição de responsabilidade social da indústria da construção”.
IMPORTÂNCIA DA MULHER NA CONSTRUÇÃO CIVIL
Para Maristela Honda, a inserção da mulher na Construção Civil é uma grande conquista, tanto para as mulheres, como para a indústria: “Hoje, na construção civil, engenheiras, técnicas em segurança do trabalho, pedreiras e instaladoras são funções cada vez mais desempenhadas nos canteiros de obras, inclusive em cargos administrativos ou no comando das empresas. Apesar de ainda serem minoria, as mulheres vêm elevando sua participação”, afirmou Honda.
Para a presidente do SECONCI, o aumento da presença feminina em construções se deve à qualidade na execução de suas tarefas, ao zelo com os equipamentos e ao nível de atenção aos detalhes em atividades de acabamento: “As mulheres geralmente são cuidadosas e meticulosas, são procuradas para atividades que requerem profissionais atentos a todos os detalhes, como pintura, assentamento de peças cerâmicas e instalações elétricas”, detalhou Maristela.
Em relação à saúde da mulher no canteiro de obra, Maristela diz, que o mais importante é respeitar a sua estrutura física, principalmente no que tange à sobrecarga: “A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) estipula que elas não podem prestar serviços que exijam força muscular superior a 20 quilos para o trabalho contínuo, ou 25 quilos para o trabalho ocasional”, explicou.
Segundo Maristela Honda, entre 2003 e 2013, o número de mulheres nos cursos de Engenharia passou de 24.554 para 57.022. Trata-se de um crescimento de 132,2%: “Temos conhecimento de mulheres que exercem funções relevantes nas obras, como guincheiras, azulejistas, pedreiras, eletricistas, além de uma porcentagem significativa de engenheiras e executivas, se comparado a 30 anos atrás. Segundo os últimos dados disponíveis da RAIS/IBGE, em 2015, o sexo feminino já representava 9,74% da força de trabalho formal do setor”, revelou.
DESAFIOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL
Como presidente do SECONCI, Maristela Honda também falou dos desafios da Construção Civil na pandemia: “O Seconci-SP adotou uma série de medidas para evitar a disseminação da Covid-19 nos canteiros de obras. Além de cartazes, folhetos, vídeos orientativos e protocolos sanitários, a entidade criou um Comitê de Crise junto com o SindusCon-SP, ao qual posteriormente se somaram Abrainc, Secovi-SP, Fiabci-SP e Sintracon-SP. Implementamos também o Programa SOS – Seconci-SP Obra com Saúde, com a contratação de profissionais de enfermagem para aferição de temperatura e orientações aos trabalhadores nos canteiros”.
Em relação às dificuldades estruturais da economia que elevaram a inflação e os juros, Maristela Honda espera que os investimentos na Construção Civil sejam melhores em 2022: “Essas dificuldades irão afetar a indústria da construção, com a geração de um menor número de vagas de emprego. De qualquer forma, ainda teremos muitas obras novas, resultantes de contratos firmados em 2021. Espera-se que durante o ano tenhamos um saldo positivo de 100 mil novos empregos formais no setor”, afirmou Honda.
Em relação a contratações de mulheres na Construção Civil, Maristela Honda contou que o SECONCI está divulgando a importância das boas práticas ESG, as quais incluem a não discriminação de gêneros dentro das empresas, e incentiva outras mulheres a ingressar no setor: “Vocês terão a grata surpresa de serem imediatamente reconhecidas pelas qualidades profissionais de vocês. Mas para tanto é preciso se revelarem como boas profissionais, a exemplo da inserção da mulher em qualquer outra atividade econômica”, concluiu Maristela.