Joseph Young Empresa especializada em software de projeto mostra como isso já é factível ao criar um modelo virtual da obra em 3D, inserido na paisagem real, antes de se mover o primeiro m³ de terra. Ele facilita o monitoramento transparente da obra e pode evitar os tradicionais aditivos de contrato A visualização virtual ajuda a convencer o público a apoiar os projetos de infraestrutura que ambicionam transformar uma região, com impactos ambientais mitigados, que podem ser vistos no modelo digital. Imaginem o polêmico projeto da Transposição do Rio São Francisco se ele tivesse sido detalhado minuciosamente num modelo digital não só nos seus aspectos construtivos, mas considerando os impactos ambientais e as medidas mitigadoras. Ele seria observado como num vídeo de imagens virtuais mostrando, no final, a água fluindo nos canais artificiais e os efeitos positivos na economia regional e na qualidade de vida da população. Seriam vistas também as margens recompostas do rio, recobertas de vegetação. A polêmica sobre a real importância da transposição poderia até continuar, mas essa visualização, com modelagem em 3D, ajudaria a reverter as opiniões divergentes. Essa tecnologia digital foi divulgada durante o evento chamado Autodesk University, que a conhecida empresa de software de projeto realizou em Las Vegas, EUA, no início de dezembro passado, reunindo seis mil profissionais entre usuários, distribuidores, e especialistas em programas de computação. Ela atraiu a atenção de uma audiência online de 16 mil internautas, com a transmissão em tempo real das principais sessões. Um dos projetos pioneiros a empregar essa tecnologia digital foi a obra da via expressa Presídio Parkway, em San Franscico (EUA), na reconstrução e modernização de uma rodovia existente há décadas, a Dove Drive, que se encontrava deteriorada, atravessando uma região histórica - o parque da ponte Golden Gate - daquela cidade costeira da Califórnia. Ao aplicar o método Building Information Modelling (BIM) e uma série de softwares de projeto da Autodesk para construir um modelo digital em 3D da rodovia, a empresa de consultoria e gerenciadora Parsons & Brinckerhoff pôde desenvolver um conjunto de análises sobre soluções alternativas em todas as etapas de execução, visualizando imagens virtuais dos resultados finais, inclusive as condições operacionais da rodovia pronta como, por exemplo, a iluminação noturna das pistas. Essa modelagem virtual com simulação dinâmica em imagens foi colocada à disposição de todos os envolvidos - contratantes, como as agências federais e estaduais de transportes, a prefeitura de San Francisco, as comunidades afetadas pelas futuras obras e usuários da rodovia, organismos ambientais e ONGs. Ela possibilitou uma ampla troca de informações e colaboração mútua sobre as melhores soluções para o sequenciamento das obras, que tinham de considerar inclusive a reorientação do intenso fluxo de tráfego, uma vez que a rodovia permaneceria aberta aos usuários o tempo todo. Uma das percepções das comunidades era a de que seria mais um projeto de freeway que viria a causar danos irreparáveis ao parque Golden Gate, junto à ponte suspensa que é o símbolo de San Francisco. Essa idéia preconcebida foi superada com a modelagem virtual dinâmica em 3D do projeto, que mostrou a rodovia Parkway Presídio mergulhando num túnel para passar sob o parque. Foi ainda possível comprovar nas imagens que o tráfego de automóveis seria remanejado em sucessivas etapas, durante as obras, sem ser interrompido em nenhum momento. Através dessa modelagem digital, os orçamentos das principais etapas e soluções alternativas também podem ser atualizados em tempo real, simulando o impacto de eventuais mudanças no custo da obra, assim como no avanço físico e no cronograma, sempre de forma transparente, a fim de que todos os agentes públicos e privados envolvidos possam influir na tomada das principais decisões. Por exemplo: o público pode ver, num vídeo simulado virtual, como será a sequência de execução dos diversos trevos sobre as pistas, a interdição temporária destas, o desvio do tráfego e os resultados finais, com o Presídio Parkway pronto e a paisagem recomposta. A tecnologia digital permitiu, neste caso, que as hipóteses mais polêmicas fossem materializadas visualmente e discutidas, antes de se mover o primeiro m3 de terra. Esta abordagem transparente de uma obra rodoviária complexa e sua discussão pública romperam com o preconceito de que obra pública é geralmente resolvida a portas fechadas em gabinetes de governo. Com isso, os agentes públicos e privados (que no caso poderia ser uma concessionária), ganharam o apoio do público para o Presídio Parkway, antes visto como uma freeway que causaria danos irreversíveis ao parque Golden Gate. Com essa transparência, inclusive sobre os orçamentos da obra, qualquer estouro de custos ou atrasos no prazo também se tornam mais difíceis de ocorrer, por conta do monitoramento sistemático do público. É o fim dos misteriosos aditivos de contrato, que costumam multiplicar o valor original das obras. O evento O evento AutodeskUnivertity, em Las Vegas, na sua 19a edição, incluindo uma realizada na China este ano, exibiu alguns protótipos físicos de projetos desenvolvidos por seus softwares. Um deles é o motor turbo prop para um avião executivo projetado pela Stratasys, pelo engenheiro aeronáutico Nino Caldarola, cujo modelo mede 3 m de diâmetro e possui 200 peças de plástico ABS, entre elas algumas móveis, como a hélice. Esse modelo digital em 3D em dimensões reais facilitaria muito a validação do seu projeto e seu processo de fabricação, já que migra para os projetos de fabricação. Outro exemplo é o Shanghai Tower, na cidade de mesmo nome, na China, que será um dos edifícios mais altos do mundo. Até aí essa competição pelo porte já não atrai muita atenção. O escritório de arquitetura Gensler, juntamente com o Instituto de Projeto e Pesquisa Arquitetônica da Universidade de Tongji, desenvolveu modelos digitais com softwares da Autodesk, reproduzidos em modelos reduzidos testados em túneis de vento. A configuração final é constituída por nove cilindros empilhados verticalmente, que gira de forma suave à medida que ganham altura. Esse modelo reduziu os custos de construção em US$ 57 milhões. Outro case curioso é da empresa Mission Motors, que chamou Yves Behar para projetar uma motocicleta de tração elétrica, de emissão zero, capaz de atingir 150 milhas por hora e garantir uma autornomia de 150 milhas por carga de bateria. Usando software de prototipagem digital, conseguiram criar a primeira unidade em apenas um ano, para testes de campo. A modelagem BIM vai revolucionar a engenharia A agência de transportes da Califórnia, Caltrans, vem estudando o projeto Presídio Parkway há mais de dez anos, desenvolvendo diversas alternativas técnicas no formato 2D. Foi ela que executou o escaneamento a laser em 3D do traçado da rodovia, cujas imagens foram transformadas em "nuvens de pontos" georeferenciados utilizando GPS, substituindo os tradicionais levantamentos topográficos de campo. A projetista e gerenciadora ParsonsBrinckerhoff realizou a migração desses estudos em 2D da Caltrans para 3D. Acionou o grupo de visualização de projeto para criar desenhos, vídeos e simulações 4D utilizando softwares AutoCAD Civil 3D, 3ds Max e Navisworks da Autodesk. Todo esse processo em essência constitui o chamado Building Information Modelling (BIM), que deverá provocar uma revolução na forma como uma obra de engenharia é estudada, projetada e executada, além de proporcionar uma documentação minuciosa para uso posterior. O Presídio Parkway é um projeto a ser construído em três anos, ao custo de US$1 bilhão, que já iniciou a relocação das redes de utilidades e as obras de um trevo. Deverá ser concluído em 2013. A rodovia antiga Doyle Drive foi aberta ao tráfego em 1936, ligando o distrito de Marina de San Francisco, passando pelo presídio que era um antigo posto do Exército fechado ao público, até a praça de pedágio da ponte Golden Gate. A abordagem do projeto é incomum. Enquanto a Caltrans desenvolve o projeto da rodovia propriamente dita, o consórcio formado pelas projetistas Arup e ParsonBrinckerhoff cuida dos aspectos ambientais e arquitetônicos e das comunicações ao público. As simulações em 4D e a sequência detalhada da construção por meio do programa Navisworks geraram valioso feedback aos projetistas da Caltrans, otimizando soluções previstas e mudanças quando necessárias prevenindo retrabalhos de alto custo na fase de obras. Animações drive-through em 3D possibilitaram avaliar por exemplo sistemas alternativos de iluminação no cenário diurno e noturno. Visualizações foram criadas para estudar elementos arquitetônicos como muros de arrimo, sinalização vertical, e o paisagismo nos portais do túnel que faz a rodovia passar sob a área do presídio, ao invés de atravessá-la. Nos modelos desenvolvidos no programa 3ds Max, a equipe técnica pode decompô-los em tarefas de construção, que são linkadas com o sequenciamento das etapas realizado através de simulação 4D pelo programa Navisworks. Uma das aplicações no campo do projeto em 3D é alimentar diretamente o sistema de orientação automática de uma escavadeira, por exemplo, fornecendo as coordenadas para localizar uma rede de utilidades a ser realocada. O princípio está na AutoCAD Há mais de 25 anos, os 16 empregados da Autodesk revolucionaram as atividades de projeto ao automatizar o processo com a introdução do software AutoCAD. Nos anos 90, através de desenvolvimento estratégico de produtos e de aquisições, a empresa ingressou em diversos novos segmentos de atuação como construção, manufatura industrial, design automotivo, infraestrutura, cinema e videogames. Hoje, seus usuários ultrapassam nove milhões, entre designers, projetistas, artistas, arquitetos e engenheiros. É impensável atualmente projetar algo sem a tecnologia digital em 2D e 3D. Segundo Carl Bass, presidente da Autodesk, a tecnologia é cada vez mais importante como vantagem competitiva. E, para que isso venha a permear a cultura de uma empresa, é preciso pôr em prática as seguintes abordagens: - Exploração: valorizar as novas ideias, sejam elas de conceitos em qualquer campo, sejam de formas, como na arquitetura; - Análise: a tecnologia esta à mão para permitir a análise de um grande número de modelos digitais, antes de se tomar a decisão; - Colaboração: através de processamento distribuído através do internet, envolvendo grande número de computadores e especialistas de diferentes áreas, a colaboração caminha para se realizar em tempo quase real; - Visualização: as estórias podem ser contadas em termos virtuais, porque os software de criar protótipos digitais permite "construir" os objetos ou obras para serem visualizados pelo público ou usuário; - Acesso facilitado: as tecnologias digitais vão se difundir na medida em que se facilitem o seu acesso e uso, como o progrma Autosketch, que permite fazer desenhos com a ponta do dedo no tela do iPhone; outro exemplo é a computação remota, mobilizando maquinas poderosas situadas em locais longínquos. Scanner a laser "fotografa" o sítio da obra em 3D O processo de produzir um modelo virtual de uma obra de engenharia tem início no escaneamento a laser do sítio da obra. Posteriormente, o curso da obra pode ser registrado da mesma forma, milimetricamente, usando georeferência via GPS, comparando a obra executada com o projeto existente. Qualquer discrepância é detectada. Complementando o scanner, pode-se também instalar câmeras via web que fotografa a obra em períodos predeterminados. Falta desenvolver, enfim, uma tecnologia digital que dispare um alarme toda vez que uma obra estoure seu orçamento, ou ganhe um aditamento que eleve seu custo, ou quando um contrato não respeite o prazo estipulado. A tecnologia para fiscalizar uma obra, sem necessidade da presença física do fiscal, já existe na prateleira. Algum contratante se habilita? Fonte: Estadão