É prematuro imaginar os resultados práticos da visita do presidente Barack Obama ao Brasil. Há uma distância continental entre o sorriso dele e os acordos que ele assinou com a presidente brasileira. Não é difícil avaliar, porém, o jogo de interesses que está por trás daquele sorriso diplomático: o pré-sal, maior abertura comercial, possibilidades de participação em obras de infraestrutura.
Ninguém pode deixar-se ludibriar pelas manifestações de simpatia dele para com o Brasil ou pelas tentativas passistas, da esposa, em escola de samba. No fundo, sobressaem o artificialismo e a expectativa de que as relações entre os dois países melhorem a tal ponto, que dispensam os atos imperiais com os quais o governo dele constrange países em desenvolvimento.
Em muitos procedimentos, a segurança desmente o sorriso. E a sensação que fica é de que ele subtrai, com a mão esquerda, o que oferece com a mão direita. Que o diga o povo nas ruas, colocado a quilômetros de distância para ver a comitiva passar. O povo é o primeiro a ser colocado para longe do palco. E, desse constrangimento, nem sequer ministros puderam ser poupados. Foram revistados por oficiais norte-americanos e levados sob escolta para evento com empresários brasileiros.
O futuro sinalizará se os acordos terão reflexos positivos aqui em empreendimentos essenciais: investimentos em transporte público, nas obras de aceleração do pré-sal e em outras áreas nas quais o Brasil precisa andar mais depressa. Inclusive, estabelecendo alguma equidade no tratamento das relações comerciais para o ingresso de produtos brasileiros nos Estados Unidos.
Se nada disso ocorrer, de nada terá adiantado o sorriso. Restará, apenas, a memória da segurança, arbitrária demais em um país que ele mesmo reconheceu, citando Jorge Ben Jor, "abençoado por Deus e bonito por natureza".
Fonte: Estadão