Check-in com filas quilométricas, salas de espera com avisos sonoros a cada segundo com volume nas alturas e sem lugares disponíveis para sentar, banheiros tipo “caixa de fósforo” e em geral sujos — restando ao usuário se refugiar nas lanchonetes de preços exorbitantes e serviços pífios, ou na livraria.
Com as licitações de concessão dos aeroportos de Guarulhos (SP), Viracopos (SP) e Brasília (DF) programados para início de 2012, além das obras de “puxadinhos” sendo realizadas em alguns outros, descrevemos aqui a saga dos viajantes frequentes, que se deslocam pelo país afora, para que os futuros operadores dos aeroportos brasileiros possam tomar conhecimento das questões triviais que os atormentam – algumas passíveis de serem solucionadas com um pouco de bom senso e gestão adequada.
Quando o passageiro chega à área de check-in do aeroporto, ele se depara com longas filas nos balcões das empresas aéreas, mesmo nos horários fora dos períodos de pico (de manhã cedo ou no final da tarde). É imperioso que a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) exija um número maior de atendentes no check-in para reduzir as filas e o tempo de espera. Poderia se adotar um critério de tempo máximo de espera por atendimento, semelhante ao regulamentado pelo Banco Central junto aos bancos nos guichês das agencias, com multas em caso de atrasos.
A Anac deveria tornar ainda obrigatório que os passageiros sejam avisados no check-in quando o voo estiver atrasado por mais de 30 minutos, de modo que possam ter o direito de desistir de viajar, sem pagar multa na remarcação da passagem, ou, ainda, ter direito à alimentação na sala de embarque enquanto aguarda o voo. Isso raramente acontece e as companhias aéreas obrigam os passageiros a passar horas à espera do embarque, sem poder sequer fazer outra coisa senão aguardar os avisos pelo sistema de som. Estatisticamente, a Infraero afirma que a percentagem de atraso na saída dos voos é pequena. Mas para quem viaja pelo menos uma vez por semana, pode-se comprovar ao vivo e a cores que a estatística está equivocada e as companhias aéreas deveriam ser penalizadas com mais severidade com relação a este item.
O nível de som dos aeroportos foi provavelmente ajustado para o volume máximo, porque a poluição sonora provocada pelos repetidas chamadas de embarque e/ou avisos sobre atrasos e passageiros retardatários, provocam real desconforto. A maioria dos aeroportos nos Estados Unidos e Europa já adotaram avisos sonoros somente nos portões de embarque e em áreas específicas. No mais, os passageiros já se acostumaram a se orientar pelos monitores de televisão que nunca falham.
Sendo os atrasos frequentes, nessa hora faltam até lugares para se sentar nos portões de embarque. A solução é se refugiar nas lanchonetes. Como a Infraero aufere receita pela locação desses espaços, seria recomendável que a empresa impusesse a diversificação de serviços e produtos oferecidos. Hoje, as raras lanchonetes disponíveis junto aos portões de embarque, servem os mesmos sanduíches e salgados, com preços absurdos.
A troca de portões de embarque é frequente. A Infraero avisa aos passageiros que essa informação é de responsabilidade das companhias aéreas. Isso significa que empresas ignoram a chegada de suas aeronaves, sabendo que as mesmas já decolaram de suas origens, seguem em uma velocidade conhecida, realizam um percurso de extensão também conhecida — e, mesmo assim, se atrapalham para anunciar o portão de embarque de sequenciamento do voo.
Em alguns aeroportos, a Infraero afixou o aviso de que “este banheiro é limpo 6 vezes ao dia”. Mas se o banheiro tem seis posições para usuários, e é usado por hora por 50 passageiros, a limpeza precisa ser feita a cada 15 minutos. Além disso, é necessário fazer manutenção das torneiras eletrônicas que economizam água, porque algumas se negam a funcionar quando precisam. Trocar as papeleiras que engasgam com o papel e soltam a tampa em cima do usuário é premente. E, ainda, porque não aumentar a exaustão do sistema de ar nos banheiros, para eliminar o inevitável mau cheiro?
Enfim, depois desse longo suplício, o viajante frequente embarca e pensa em relaxar ate o destino final. Mas ele sabe que isso é ilusório, porque os assentos — bem como o espaço entre as filas – hoje adotados pelas empresas aéreas que monopolizaram o transporte aéreo no país foram dimensionados para pessoas de estatura e peso abaixo da média. E haja barrinhas de cereal e refrigerantes, mesmo que se esteja indo de São Paulo a Recife, com duas escalas.
Fonte: Padrão