Não há como deixar de se concordar com o colunista Elio Gaspari, em seu artigo na Folha de S. Paulo de hoje: "Se a doutora Dilma perder cinco minutos pensando no estrago que a obsessão do trem-bala poderá fazer no seu governo, ela fecha a quitanda desse projeto". Em outras palavras menos irônicas já dissemos isso cem e tantas vezes.
O trem-bala tem alguns equívocos que ainda não foram adequadamente explicados ou que, explicados, não conseguem convencer quem procura obter justificativas plausíveis para que o empreendimento saia do papel. Primeiro, o projeto ainda está inconcluso. Acaso os seus defensores querem primeiro colocar o trem nos trilhos para depois suplementar o projeto? Segundo: como fica a questão do traçado? Ele vem de Campinas para em São Paulo e, depois, segue direto para o RJ a fim de cumprir o horário de percurso originalmente previsto, que seria de um pouco mais de uma hora? Ou ainda prevalece a ideia, defendida por alguns políticos, sobretudo prefeitos, de que ele deve parar em São José dos Campos, Aparecida e em outras estações? E como fica questão da demanda? Ela seria suficiente para cobrir as despesas com a folha de pagamento dos funcionários e com a manutenção do material rodante e ainda proporcionar o retorno satisfatório dos investimentos públicos e privados que ali seriam aplicados?
A propósito, o orçamento para a construção, continuaria o mesmo que foi apresentado em 2008? Naquele tempo ele estaria custando R$ 33,1 bilhões. Mas, já naquela época, empresários da construção duvidavam da viabilidade desse orçamento e consideravam, como ainda consideram, que as obras não ficarão por menos de R$ 50 bilhões. E olha que a avaliação é feita por quem entende do assunto.
Por tudo isso, prevalece a dúvida: o edital, que fixará a data do leilão para a escolha do consórcio que construirá o trem-bala, já adiado sete vezes, será adiado novamente?
O erro dessa obra está na matriz do golpe desferido contra as ferrovias brasileiras. O governo, em outras administrações, negligenciou a rede ferroviária que há mais de 100 anos funcionava no Brasil. Praticamente, cada região brasileira era servida por ferrovias. São Paulo tinha os ramais da Alta Paulista, Araraquarense, Mogiana etc. Mas, sobretudo a partir da década de 1960, resolveram colocar o sistema ferroviário no ostracismo. Trilhos, trens e estações apodreceram. Dinheiro a rodo virou sucata nos pátios e nas plataformas abandonados. Foi praticado um crime contra as ferrovias brasileiras. Hoje, para recuperar o sistema, é preciso começar do começo. O trem-bala seria uma etapa mais avançada. E corre o risco de ficar para as calendas.
Fonte: Estadão