Leio nota dando conta de que a Desenvolvimento Rodoviário S. A. (Dersa), pretende contratar uma equipe para espantar e colocar para longe do trecho Norte do Rodoanel, bichos que ainda vivem na região de Mata Atlântica, que será alcançada pelo traçado. O trecho terá 43,86 km de extensão.
A mesma nota informa, com dados de estudo de impacto ambiental necessário ao licenciamento das obras, que estão abrigados na região 354 espécies de anfíbios, répteis, mamíferos e aves, além de uma variedade muito grande de insetos. Não sei como se chegou rigorosamente àquele número – 354. Não poderiam ter sido 355 ou 353 espécies? E, por que não arredondaram o cálculo para 360? – De qualquer modo é de supor-se que tenhamos de nos render ao rigor matemático.
Mas, seja qual for o número exato das espécies que por ali estejam sobrevivendo, teremos de exigir a aplicação de todo o cuidado com aqueles bichos. Nenhuma deles, acaso sacrificado com a instalação dos canteiros, deve ser alvo do dar de ombros dos responsáveis pelas obras. Todos merecem o nosso respeito.
Falo isso pensando na fala de um presidente da República, que vira e mexe evocava a lembrança de uma perereca, encontrada prestes a ser vítima da passagem de um trator, na construção de uma rodovia. O presidente recorria ao exemplo do pequeno animal, a fim de mostrar que obra rodoviária, considerada tão significativa, não deveria ser paralisada por causa de uma humilíssima perereca.
Pois muita gente saiu em defesa da perereca. Inclusive este escrevinhador. Uma perereca é uma criação da natureza. Quando a espécie se extinguir, não haverá quem torne a recriá-la para recolocá-la na natureza. Ficaremos órgãos da pequena perereca.
O mesmo pensamento se aplica, agora, àquelas 354 espécies remanescentes da Mata Atlântica. São criaturas da natureza, a serem surpreendidas pelas máquinas em seu hábitat. A evolução dos meios para a construção de estradas ou de outras obras deve preservar esses bichos. Eles não podem ser esmagados pela nossa milenar capacidade de destruição.
Fonte: Nildo Carlos Oliveira