Michelle Bachelet, a primeira presidenta do Chile, numa entrevista recemte ao jornal O Estado de S.Paulo, declarou sem rodeios que seu país via a globalização como uma oportunidade e não uma ameaça. No seu estilo franco e sem “choradeiras” típicas de países emergentes, apontou que os diversos acordos bilaterais de livre comércio que o Chile celebrou com EUA, México, países do Pacífico e agora com a China, são provas da sólida inserção do país na globalização da economia mundial, com pressa de não perder um minuto sequer ao capitalizar as vantagens desse processo irreversível. Ela afirma que de forma alguma significa desprezo pelos acordos regionais, como chegou a insinuar o presidente Lula no livro Viagens com o Presidente, dos jornalistas Leonêncio Nossa e Eduardo Scolese. Bachelet colocou enfaticamente o Chile como uma plataforma de exportação e parceiro dos países vizinhos – principalmente com vistas ao gigantesco mercado do Pacífico, formado por 2,5 bilhões de habitantes..Avisou, entretanto, que não pode frear o desenvolvimento da sua economia em nome da boa vizinhança. O país mostra números impressionantes da validade do seu modelo de desenvolvimento neo-liberal e mercado aberto – em 20 anos, o PIB cresceu 209%, contra 72% do Brasil, 65% do México e 40% da Argentina. A abertura do mercado chileno é para valer – a ponto de pouquíssimas empresas brasileiras de engenharia atuarem lá por causa dos preços praticados pela agressiva concorrência internacional. Ela afirmou que tem consciência que o país apresenta o melhor desempenho econômico do continente – mas possui a pior concentração de renda, tanto que propôs gastar dois de cada três pesos do orçamento nacional no setor social. Chile, por exemplo, subsidia o fornecimento de água à população de baixa renda, cujas famílias precisam comprovar essa condição para obter este benefício(ver matéria Saneamento nesta edição) Bachelet aponta o que o regime democrático e a economia neo-liberal que o país herdou do regime militar e aperfeiçoou já obtiveram de resultados no Chile –desde 1990, os níveis de pobreza foram reduzidos em 40% em continuam caindo. Três de cada quatro chilenos tem casa própria, um de cada três jovens está cursando ensino superior, 70% dos quais representam a primeira geração de família que ingressa na universidade. Toda vez que alguém cita o exemplo do sucesso do Chile, a maioria dos interlocutores brasileiros torce o nariz alegando que é um país pequeno com cerca de 15 milhões de habitantes, onde os problemas são numa escala relativamente menor se comparado com o Brasil. Mas a seriedade do modelo de país que o Chile adotou e a persistência com que busca o desenvolvimento, sem se perder em pirotecnias e pretensões hegemônicas, merece servir pelo menos de inspiração.
Fonte: Estadão