Esse sociólogo polonês de 87 anos, vítima da censura em seu país de origem e que fez carreira no Canadá, Estados Unidos, Austrália e Inglaterra, botou uma série de reflexões em seu livro Isto não é um diário (This is not diary), agora publicado pela Zahar, numa tradução do inglês por Carlos Alberto Medeiros.
A importância dele é a atualidade. O modo de arrancar o véu ou a roupa das coisas. A maneira de não deixar que nada fique dissimulado. E dar profundidade a reflexões sobre temas que julgamos de superfície, porque tratados às pressas no dia a dia do noticiário convencional.
Nas anotações que fez no dia 22 de setembro de 2010, ele fala, por exemplo, a respeito da “erosão da confiança e o florescimento da arrogância”. Analisando o pensamento de diversos autores, diz que mentiras e engodos não parecem mais ultrajantes. E prossegue: “… mentirosos e trapaceiros não são mais banidos da vida pública por consentimento comum. Poucas sobrancelhas irão se erguer hoje diante de que outro `estadista´ foi apanhado em mentira”.
Continua: “Podemos zombar e rir dos manipuladores de opinião, mas a política sem eles se tornou tão inimaginável para nós quanto um circo sem palhaços para nossos antepassados. As rotinas de mentir, negar a mentira e depois desdizê-la só agregam valor ao entretenimento dos políticos – virtude nada desprezível num mundo obcecado e viciado em infoentretenimento.”
Essa verdade tão simples está na televisão, no horário eleitoral que invade a todo instante a nossa casa. Os políticos entram ali, se alojam na TV durante alguns minutos e vão abrindo a caixa de mentiras. Por último, o sociólogo cita Saramago, numa referência a um político não daqui (isto já seria demais) mas dos Estados Unidos: “Ele sabe que mente, sabe que nós sabemos que está a mentir; mas, pertencendo ao tipo comportamental do mentiroso compulsivo, continuará a mentir”.
Fonte: Nildo Carlos Oliveira