Importante enfatizar, na continuidade do governo Dilma Rousseff, que a exemplo do que fizeram países como os Estados Unidos e a China, a reativação de uma economia debilitada exige necessariamente uma forte aceleração dos investimentos em obras de infraestrutura. Com ela, tanto a cadeia da indústria da construção se reaquece e amplifica com rapidez os seus efeitos multiplicadores, como as próprias obras de melhoria de transporte, saneamento, habitação social e outros segmentos produzem impactos expressivos, com desdobramento no restante das cadeias produtivas.
Aí lastimavelmente esbarramos nas velhas falhas de gestão dos contratantes públicos, que somente podem remediar suas práticas a médio prazo, com o aperfeiçoamento dos seus quadros técnicos e incorporação de softwares de TI. Enquanto isso não acontece, eles deveriam mobilizar empresas projetistas e gerenciadoras para atuar de forma mais sistemática e incisiva na gestão das obras licitadas, nos três níveis da administração.
O governo federal pagou por obras realizadas em 2013 R$ 12,416 bilhões. No mesmo período, os Estados de SP, RJ, MG, BA, PE e CE pagaram R$ 18,415 bilhões. Nesse cenário, e de acordo com o Portal da Transparência do Governo Federal, o dispêndio total do governo federal, com a máquina administrativa, chegou ao montante de R$ 1,468 trilhão. Apenas 0,845% desse total foi aplicado em obras públicas efetivamente executadas.
Uma gestão eficaz dos órgãos contratantes federais, feita nos moldes atuais dos empreendimentos privados, poderia dobrar ou triplicar esses investimentos nos próximos quatro anos, desde que conduzida com apoio de projetistas e gerenciadores competentes.
A gestão assim preconizada deve incluir também a garantia de qualidade das obras executadas. A engenharia brasileira não pode tolerar a entrega de obras construídas com padrões duvidosos. As normas brasileiras aí estão para ser cumpridas e os responsáveis por eventual negligência devem sofrer as sanções legais.
Outro aspecto a registrar diz respeito à situação das cidades brasileiras, a maior parte das quais está a mostrar a enorme carência de manutenção na infraestrutura necessária ao seu funcionamento. São pontes, viadutos, edificações escolares e para fins de saúde, corredores viários etc. que estão deteriorados. Muitas dessas estruturas se encontram em processo de colapso. Nesses casos, vale considerar uma abordagem mais holística — isto é, avaliar o conjunto de reparos em vez de considerar cada obra individualmente.
A revista O Empreiteiro trouxe na capa da edição de setembro último (nº 534) matéria focalizando o programa de reconstrução de 802 pontes pelo DOT, Departamento dos Transportes do Estado de Missouri, nos Estados Unidos, cumprido integralmente em apenas três anos e meio de obras. Essa é a constatação do que a engenharia pode fazer com a contratação criteriosa de empresas que operam com qualidade e cumprindo cronogramas.
Não faz mais sentido recapear um corredor viário para uma vida útil de apenas seis meses, com todas as interrupções e transtornos que tais serviços provocam no meio urbano. Hoje, calçadas esburacadas demoram meses para ser reparadas. E a lista de absurdos desse tipo é interminável.
Temos um país inteiro por construir, enquanto o volume atual de obras públicas mal acompanha o crescimento da economia na década recente. Enquanto isso, o adensamento urbano da maior parte das cidades brasileiras continua a criar demandas inadiáveis, como mostraram os protestos de junho de 2013. E ainda nada se fez para dar respostas à população, afligida com o emperramento da máquina pública.
Faltou chuva, faltou e falta água, faltaram obras, faltou planejamento. E agora vêm aí as aguardadas chuvas de verão. Elas deverão mostrar, mais uma vez, que, no contexto torto das nossas grandes cidades, logo se transformam num evento indesejado e mesmo perigoso. As nossas grandes cidades não fizeram o dever de casa para reduzir os estragos provocados pelas enchentes. Haverá desmoronamentos em áreas de risco e sinais de tráfego obsoletos deixarão de funcionar. É o Brasil, na continuidade de sua insana normalidade, depois das eleições.
Fonte: Revista O Empreiteiro