Dá mesmo arrepio ver como alguns turistas chegam a sítios turísticos. Os locais estão lá, no sertão, na selva, nas ilhas. São objetos da obsessão dos descobridores de ambientes exóticos, invariavelmente chamados de paradisíacos. E, descobertos, são colocados em prospectos, folhetos, jornais, para alimentar o interesse da indústria do turismo.
As novidades surpreendem. Mas nem sempre são tratados como elementos que ajudam na composição da história cultural dos usos e costumes de uma comunidade, de uma região. Às vezes, nem sequer são tratados com o respeito merecido. E nem recebem o projeto, o desenho do traçado e os equipamentos que ajudariam a reduzir a degradação a que eles ficam sujeitos.
Às vezes, descobertos, não contam com o apoio do poder público, para coibir as práticas que podem provocar-lhes danos, eventualmente irreparáveis. E, o material humano utilizado para cuidar deles, no geral não tem o perfil nem a formação que seriam imprescindíveis para o desenvolvimento do trabalho com aquela finalidade.
Na outra ponta, há turistas que chegam aos sítios turísticos como se vândalos fossem. Mas este não é um fenômeno apenas brasileiro.
Alinhavei essas reflexões ao ler, esses dias, o livro de memórias de Carlos Heitor Cony, Eu, aos pedaços. Ele faz referência, na crônica A deusa do mar Egeu, à ilha de Mykonos, facilmente acessível aos turistas por barcos e navios.
O problema que chamou a atenção do cronista é a maneira como eles, os turistas, estavam chegando lá. E cita Sartre para explicitar o seu pensamento: "O inferno são os outros". Os outros, no caso, seriam as hordas dos vândalos modernos.
Fonte: Estadão