Com a terraplenagem da área e a concretagem dos primeiros blocos da Laminação, a Vallourec começa a dar corpo à expectativa do governo de Minas Gerais de transformar o Campo das Vertentes, em Jeceaba, em novo polo siderúrgico do Estado
O Campo das Vertentes, em Jeceaba, a 50 km de Belo Horizonte, já não éesmo. As obras de infra-estrutura para a implantação da laminação e da fábrica de tubos de aço sem costura da Vallourec & Sumitomo (VSB), e cujas atividades deverão ser no primeiro semestre de 2010, mudam a paisagem local e introduz uma dose de otimismo nos municípios que receberão o impacto direto da construção e operação da usina siderúrgica: Jeceaba, São Brás de Suaçuí, Lagoa Dourada, Conselheiro Lafaiete e Congonhas.
Equipada com tecnologia de ponta, a usina de Jeceaba compreende investimentos de US$ 1,6 bilhão. Deverá ser, no entendimento dos empreendedores, uma das mais modernas do mundo. Ela fortalecerá o crescimento industrial em Minas e terá papel importante no conjunto das demais siderúrgicas nacionais e internacionais.
Recentemente, ao receber no Palácio da Liberdade, Pierre Verluca, presidente da VSB, o governador Aécio Neves disse que a nova usina passará a integrar o maior segmento siderúrgico do mundo, atualmente formado pelos polos de Belo Horizonte, João Monlevade, Ipatinga, Ouro Branco e Juiz de Fora.
Por conta da importância estratégica do empreendimento para Minas Gerais e para o País, ele assumiu o compromisso de proporcionar toda a infra-estrutura necessária para a instalação da usina e para o escoamento da produção, que deverá chegar, quando em plena capacidade, a 3 milhões de t/ano.
O sítio da siderúrgica foi escolhido, naquela região, levando-se em conta a proximidade com a Mina de Pau Branco, a 40 km de Jeceaba, de onde receberá a matéria-prima. Além disso, por Jeceaba passa a ferrovia que liga os estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo.
O engenheiro João Márcio Abijaodi, coordenador das obras civis, informa que o projeto geral do empreendimento está sendo desenvolvido considerando-se os avanços da tecnologia nesse campo de atividades. Ele consiste em uma usina de aço integrada, com uma pelotizadora e dois altos fornos para a produção de ferro-gusa; uma aciaria com forno elétrico e lingotamento contínuo e uma unidade de laminação, com tratamento térmico e rosqueuamento. Além disso, ele inclui um prédio administrativo, oficinas de manutenção e outras edificações de apoio.
João Márcio diz que a Vallourec & Sumitomo Tubos do Brasil é uma joint venture formada pela francesa Vallourec e a japonesa Sumitomo Metais, parceiras há mais de 30 anos no campo de conexões premium destinadas ao segmento de óleo e gás. O memorando de entendimento entre as duas companhias foi assinado no dia 28 de março de 2007. Os passos seguintes foram a assinatura de um protocolo de intenção de investimentos com o governo de Minas Gerais, o lançamento da pedra fundamental da usina em Jeceaba e o começo dos serviços de terraplenagem, em janeiro de 2008.
AS OBRAS CIVIS, A PARTIR DO ZERO
A direção da Mascarenhas Barbosa Roscoe, que está tocando as obras de infra-estrutura da laminação e da fábrica de luvas, diz que o sítio em Jeceaba abrigará também o alto-forno, a pelotização e a aciaria e que as obras gerais compreenderão a construção do sistema captação e tratamento de água e esgoto.
“Hoje, aqui”, diz o engenheiro Rodrigo Paolinelli Borges, gerente de contrato da Mascarenhas em Jeceaba, “estamos deflagrando as obras civis com a concretagem dos primeiros blocos de fundação da Laminação. Os trabalhos de terraplenagem (a movimentação de terra deve compreender um volume da ordem de até 18 milhões de m³ até o final das obras) e estaqueamento já se encontram adiantados.
No conjunto, segundo ele, as obras absorverão 250 mil m³ de concreto, dos quais o contrato da Construtora prevê 125 mil m³. Tal volume de concreto será distribuído nas estruturas dos galpões industriais da laminação e da fábrica de tubos. As obras de terraplenagem, a cargo de consórcio integrado pela Construtora Barbosa Mello e Cowan e U&M, resultaram no platô no qual avançam os serviços iniciais de concretagem das estruturas. O consórcio é responsável também pela demolição da ordem de 750 mil m³ de rocha. O estaqueamento que está sendo executado pela empresa W.Torre prossegue junto as obras civis.
Mas os trabalhos não são fáceis, embora o terreno, já terraplenado, possa dar impressão diferente. O engenheiro Joab Alves de Souza, gerente de planejamento da Mascarenhas, diz que ali as condições climáticas são severas, sendo necessária logística adequada para que a obra avance neste período chuvoso. Na área, a fundação é diferenciada: parte diretamente em rocha aflorada e parte executada com estaqueamento.
O diferencial maior está na concretagem. Como executar 125 mil m³ de concreto em apenas 13 meses de produção? A rigor, a média será de 10 mil m³/mês prevendo-se a execução de 14 mil a 15 mil m³/mês no pico dos trabalhos. Esse volume de concreto será aplicado na execução de aproximadamente 1.000 blocos de fundação, pilares, plataforma para apoio dos equipamentos, canal e poço de carepa, bem como algumas edificações industriais tais como: salas elétricas, salas de compressores, salas hidráulicas, etc.
Simultaneamente ao desenvolvimento dos trabalhos, a Mascarenhas, segundo Rodrigo Paolinelli, não deixa de examinar outras opções capazes de melhorar a qualidade na execução e até de redução de prazos do cronograma. Ele dá o exemplo: o projeto inicial do contratante prevê 100% da obra executada com peças de concreto moldadas “in loco”. O departamento de engenharia da construtora examina a possibilidade de pré-moldar parte da obra a fim de otimizar a produção e prazos. Óbvio que qualquer decisão nesse sentido depende da anuência do cliente. Contudo, ela pretende demonstrar que pilares, vigas e lajes podem ser pré-moldados em canteiro, permitindo maior velocidade nos trabalhos.
LOGÍSTICA E PARCERIAS
A Mascarenhas conta, em Jeceaba, com engenheiros, técnicos e operários de muita experiência. Alguns procedem das obras da TKCSA, no Rio de Janeiro e outros chegaram da Gerdau Açominas.
Rodrigo Paolinelli Borges e Joab Alves de Souza dizem que, por uma questão de estratégia, os alojamentos do contingente, que poderá chegar a quase 3 mil trabalhadores no pico da obra, serão pulverizados entre os municípios circunvizinhos. Alguns trabalhadores ficarão, por exemplo, em Ouro Branco, Congonhas e Lafaiete, enquanto outros, sobretudo os técnicos, os encarregados e os engenheiros, ficarão em Jeceaba, Entre Rios e São Brás de Suaçuí. Essa estratégia ficou definida a partir de entendimentos que a construtora manteve com as prefeituras da região. É uma forma de minimizar o impacto da presença de tal contingente junto àquelas comunidades.
Importante, na montagem do esquema logístico, as parcerias que foram estabelecidas. Tendo em vista o volume de concretagem, a empresa pensou, inicialmente, na instalação de duas centrais de concreto no sítio. Acabou, no entanto, instalando três usinas: duas da Supermix e uma da Wammix, com capacidade nominal de 60 m³/hora cada uma, somando, as três, uma capacidade de 180 m³/h.
Para atender a essas três centrais no período de pico da obra, serão demandados em torno de 220 mil litros de água/dia para o uso no concreto e para a usina de pré-moldagem, 230 toneladas de cimento, 650 toneladas de brita (proveniente de britador instalado no site) e 480 toneladas de areia, o que representará um tráfego de aproximadamente 65 carretas por dia.
Para o transporte diário da mão-de-obra alojada nos municípios da região serão utilizados até 70 ônibus. Esse volume de veículos, somado aos caminhões-pipa, caminhões basculante, caminhões betoneira para concreto, carretas e veículos leves, dá uma idéia da intensidade do tráfego nas rodovias da região e mostra a necessidade de uma logística apurada para o tráfego interno a obra.