Em mãos, há mais de uma década, o livro O viajante imóvel, do jornalista, escritor e permanentemente observador perspicaz, Luciano Trigo. Publicado pela Record em 2001, trata da identidade de Machado de Assis com a sua cidade, o Rio de Janeiro. E das mudanças urbanas que o mestre de Memorial de Aires foi anotando ao longo do tempo, em suas crônicas, contos e romances.
O livro conta as viagens do escritor pelas ruas, praças, interiores de edificações e anota paisagens, ambiente dos cafés literários, teatros, meios de transporte, o homem da rua, as mulheres, a política, um mundão, enfim. Foram centenas de viagens, sem que, no entanto, o escritor se movimentasse um centímetro para fora do Rio de Janeiro.
Mas, em suas viagens – continuando imóvel no quadro urbano local – atravessou diversas vezes o Atlântico rumo a Portugal e a outros países, sempre por intermédio de seus personagens e por conta de suas leituras.
Declinou convites e apelos dos amigos para que embarcasse num navio a fim de conhecer, ao vivo, outra parte do mundo. E ele: “… pelo avanço dos anos, e por outros motivos não menos melancólicos, creio que irei deste mundo sem ver essa outra parte dele, que atraiu os jovens do meu tempo e continua a atrair os de hoje”.
Sequer se aventurava a sair da cidade para o interior. O Rio lhe bastava. E reconhecia: “Eu sou um pouco fruto da capital, onde nasci (nasceu no Morro do Livramento) e vivo e creio que hei de morrer, não indo ao interior senão do por acaso e por relâmpago”.
Trigo narra tudo, explora tudo o que o mestre de Cosme Velho anotou. O advento do bonde elétrico, por exemplo, introduzido aqui (lá no RJ), pelo engenheiro americano Charles Greenough, que “em 1868 obteve a primeira concessão para a Botanical Garden Railroad Company”.
Portando, essa ideia da concessão, que parece a muita gente uma coisa dos tempos de economia nova, não é de ontem nem de anteontem. Ela vinha se impondo desde o Império, para que o transporte público pudesse andar.
Fonte: Nildo Carlos Oliveira