Uma pesquisa, recém-concluída pela Fundação Dom Cabral, que contou com o apoio institucional do Secovi-SP, mostrou o que já se sabe de longa data: a sustentabilidade, embora venha instigando o fortalecimento de uma consciência coletiva sobre a necessidade da preservação do meio ambiente – aqui e em outras nações – na prática ainda não deixou de ser uma teoria. Uma idéia que não ousou se expor para não sofrer terríveis humilhações.
Há providências pontuais efetivas. Mas, são consideradas de tal modo insuficientes, que não podem ser contadas como uma grande ação de efeitos globais permanentes e duradouros. No fundo, alimentam o marketing. E, este, é maior do que os exemplos reais tentam fazer crer.
A nota sobre a pesquisa aponta que um dos problemas, para que a sustentabilidade não se sustente na prática, é o discurso entre a ficção e a realidade. “Embora as organizações adotem o discurso pró-sustentabilidade e reconheçam sua importância (92%), ainda lhes faltam atitudes mais efetivas, tais como o estabelecimento de metas e políticas substancialmente alinhadas com esse princípio”.
Para que a sustentabilidade saia do papel – em muitos casos sequer isso aconteceu – é necessário que os governos desçam dos palácios e passem a praticar políticas que se transformem em diretrizes para que a fantasia seja rasgada.
Falar em sustentabilidade poluindo rios e mananciais; arruinando florestas; construindo montanhas de lixo; envilecendo a vida urbana e permitindo construções de edificações que chegam ao céu, ocupando anarquicamente metrópoles já adensadas nos limites extremos, sem que se cuide previamente da ampliação das redes de água e de esgotamento sanitário, é simplesmente mascarar o real. É mentir para a sociedade.
Estão aí os mananciais entupidos tanto pelos dejetos que chegam dos grandes condomínios de luxo, quanto das ocupações irregulares. Como falar de sustentabilidade com os rios, nas metrópoles e nas regiões remotas, transformados em condutos de esgoto a céu aberto? E como falar de sustentabilidade diante de uma baía da Guanabara degradada por aquela carga de poluição?
Hoje só seria saudável e honesto falar de sustentabilidade a partir de projetos de cidades sustentáveis. Não mais de prédios ou bairros, mas de metrópoles. Mas, isso, os governos não fazem e as grandes organizações também não.
Enquanto não houver uma política ampla, forte, com prioridade para investimentos e práticas de engenharia direcionadas para aquele fim, falar em sustentabilidade será continuar a contar uma piada de mau-gosto. Um escárnio para a sociedade.
Fonte: Nildo Carlos Oliveira