Vetor de transformação urbana

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A gigantesca estação do TAV em Changsha estava praticamente deserta no dia da sua abertura, quatro anos atrás. A estrutura com 16 plataformas já está sendo duplicada porque sua lotação saturou-se nesse período, com todos os trens saindo cheios a intervalos de alguns minutos.

A rede de alta velocidade começou a operar há cinco anos e já transporta o dobro dos passageiros mensais das linhas aéreas domésticas e o tráfego cresceu a 28% anuais nos anos recentes. A rota entre Guangzhou e Changsha, de 688 km, demorava antes por trem um dia todo — o TAV cobre o percurso em duas horas e 19 minutos.

Há economistas que creditam à rede TAV o maior desenvolvimento da economia chinesa, comparado a outros países emergentes. Os críticos apontam os altos custos de construção, grande número de habitantes realocados, um acidente fatal e corrupção no processo das licitações, que levou inclusive ao julgamento de dois funcionários graduados do Ministério de Ferrovias.

Um estudo feito este ano pelo Banco Mundial revela que as mais de100 cidades chinesas interligadas pelo TAV experimentam um crescimento na produtividade dos seus trabalhadores, porque as empresas estão a poucas horas de viagem de centros urbanos que reúnem dezenas de milhões de consumidores, trabalhadores e firmas concorrentes. Esse ganho é reflexo da maior mobilidade proporcionada pelo TAV ao reduzir os tempos de viagem, além de menor poluição, ruído e gasto de combustível.

Centros de pesquisa e desenvolvimento estão sendo criados pelas empresas em cidades como Beijing e Shenzhen, com sólida oferta de mão de obra jovem e qualificada, cujos técnicos viajam com frequência às fábricas ainda localizadas em regiões de salário e terras mais baratos, como Tianjin e Changsha. Da mesma forma, eles passam a visitar Guangzhou –o polo comercial do sudeste da China –para acompanhar as novidades da moda e de estilo preferidas pelos consumidores globais. Essa mobilidade gera mais negócios em cada elo da cadeia de produção e logística.

O governo teve de realocar grandes contingentes de moradores no traçado das linhas do TAV, aproveitando os distritos residenciais e comerciais que nascem em torno das estações ferroviárias, na periferia dos centros urbanos existentes. Isso aconteceu em Changsha, cuja estação abriu em 2009 no meio de um subúrbio repleto de fábricas decadentes controladas pelo Estado. Em cerca de três anos, essa região do entorno foi preenchida com torres residenciais, comerciais e hotéis repletos.

A existência de regiões densamente povoadas no terço oriental do continente chinês, onde vive a maior parte do mais de um bilhão de habitantes, cria corredores de alta densidade demográfica que favorecem o uso de trens rápidos – algo parecido com o que aconteceu com a linha Shinkansen, no Japão, ao ligar Tóquio a Osaka, na região macrometropolitana mais populosa do mundo.

A rede TAV foi beneficiada ainda pela implantação simultânea de sistemas de metrô nos centros urbanos, que funcionam como linhas alimentadoras de passageiros. Segundo os próprios fabricantes, mais da metade das TBMs em operação no mundo está trabalhando no subsolo chinês, abrindo túneis e estações de metrô.

As estações do trem de alta velocidade se transformaram em minipolos de urbanização na China

Fonte: Revista O Empreiteiro


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