A sociedade não suportará mais quatro anos de retórica

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A partir de janeiro, o Brasil terá um novo governo. A expectativa é de que haja um novo governo sim, que, se possível, não seja nem de longe uma cópia, retocada, do primeiro mandato do presidente Lula da Silva. Novo na estrutura, no enfoque político e social e absolutamente novo no que diz respeito à necessidade de investir em obras que ajudem a deslanchar o crescimento econômico, destravando as amarras que, hoje, obstaculizam as atividades produtivas, dentre elas, e de modo muito significativo, as da Construção e da Engenharia. Por ora, as amostras do que poderá ser o novo governo, não são de modo a provocar sentimentos animadores. Está aí o exemplo do que comumente passou a ser chamado de “apagão aéreo”, com a situação nos aeroportos, que derivou para a indicação de que um dos culpados seria um sargento da Aeronáutica, quando a culpa é do governo. Do mesmo governo que montou uma estrutura de poder capaz de captar uma enorme massa de recursos por meio de impostos, mas não foi capaz, até aqui, de priorizar e gerenciar, na prática, o crescimento, como a sua principal prioridade. Daí o “apagão aéreo” e o risco de que a mesma coisa possa acontecer nas rodovias, na energia, saneamento e em outras áreas mais, onde o investimento público, casado com o privado, pode permitir ampla margem para um crescimento sustentado e duradouro. O Brasil só não está sufocado pelo estrangulamento de sua infra-estrutura, porque não tem crescido. Ou, se tem crescido, vem apresentado índices absolutamente pífios de crescimento, incompatíveis com a sua necessidade de gerar emprego e absorver o grande contingente de mão-de-obra de todas as áreas, que todos os anos as universidades públicas e privadas despejam no mercado. Estudo recente do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) prova que, pelo acumulado dos nove primeiros meses de 2006, o País conseguiu crescer 2,5% em relação ao período equivalente do ano anterior. Quanto à taxa acumulada nos últimos quatro trimestres, esta chegou a 2,3%. O estudo detalha que o comportamento industrial no trimestre caracterizou-se pelos bons desempenhos de extração mineral e da construção civil, esta beneficiada pelas medidas de desoneração e de financiamento ao setor habitacional. Lastimavelmente, as projeções que vêm sendo feitas mostram que a economia brasileira, ao menos até 2010, não deve obter margem sequer de 5% de expansão ao ano. A retórica utilizada à exaustão pelo governo para tapar o sol com a peneira não pega mais. Oscar Wilde, no ensaio “A decadência da mentira”, indaga: “Afinal, o que vem a ser uma bela mentira?” Resposta: “A que se torna evidente por si mesma”. Diante dos números, a retórica montada ao longo desses quatro anos desmonta-se e exige que o novo governo aja, de modo a merecer a confiança que 56 milhões de brasileiros depositaram nele, nas urnas. Vários encontros que diversas categorias industriais e, de modo específico, os construtores, vêm mantendo com o governo, em especial com os ministros do Planejamento, Guido Mantega, e da Casa Civil, Dilma Rousseff, além daqueles diretamente articulados com o presidente da República, têm em conta sublinhar que o País só conseguirá evitar o “apagão” em sua infra-estrutura se forem adotadas, com urgência, as medidas para o investimento, entre 2007 e 2010, de cerca de R$ 2.065 bilhões. Essa soma de recursos seria destinada à manutenção e ampliação da malha rodoviária federal, ao reforço da capacidade de geração e distribuição de energia elétrica, à expansão dos serviços de saneamento e aos programas habitacionais de interesse social. Sem providências desse tipo, os paradoxos brasileiros continuarão. Um deles, registrado pela revista O Empreiteiro, diz respeito a um encontro na Associação Brasileira de Infra-Estrutura e Indústria de Base (Abdib), quando diversos investidores em potencial deixaram de comparecer ou compareceram com atraso em razão do “apagão” aéreo, que o governo rapidamente atribuiu a um sargento, quando a pane está um pouco mais acima.
Fonte: Estadão


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