Diante de mudanças climáticas mais dramáticas, com altas temperaturas, chuvas torrenciais e ventos do tipo ciclone, as áreas de ocupação irregular nas cidades brasileiras são as maiores vítimas de inundações e deslizamentos de terra, arrastando junto moradias precárias e, não raro , famílias inteiras perdem suas vidas. Petrópolis, no Rio, São Sebastião, em São Paulo, Mimoso do Sul, no Espírito Santo, enfim, o país inteiro sofre com esses dramas que parecem não ter fim.
O poder público alega que os moradores não querem deixar suas casas erguidas em encostas instáveis, e que há escassez de verbas para obras de drenagem e contenção, há descontinuidade administrativa quando ocorrem mudanças de gestão, etc. A verdade é que os anos, as estações e as gestões públicas vão passando e as tragédias se sucedem, assim como as obras que não avançam na velocidade e volume necessários .
Essa situação trágica dos moradores de encostas e áreas sujeitos a inundação caminha em paralelo aos sucessivos programas de habitação social, ao longo de décadas, passando pelo antigo BNH que acabou extinto, criou-se novo ministério a nível federal para coordenar essa área, e o déficit habitacional resiste a baixar dos 5 a 6 milhões de moradias.
Voltando às obras de contenção de encostas e de drenagem, as tecnologias são conhecidas e estão na prateleira. Há uma diversidade de projetistas e empresas de engenharia que podem ser mobilizadas. Mas quando as chuvas torrenciais dão uma folga e o assunto deixa de aparecer na imprensa e TV, as obras propaladas voltam para as gavetas. Elas serão mais uma vez lembradas nas próximas chuvas.
Assim como o movimento Concertação pela Amazônia é formado por 600 lideranças, empresas privadas e pessoas físicas, desde 2019, visando a estudos para programas de médio prazo sustentáveis para a preservação da floresta e dos seus habitantes – os verdadeiros responsáveis por mantê-la em pé—sugerimos que as entidades e empresas de Engenharia constituam um organismo similar para atuar como consultor do poder público, nos três níveis, para que as obras geotécnicas. e os programas de habitação social tenham continuidade – sem interrupção a cada quatro anos. Como essas entidades e empresas não seguem ciclos de quatro anos, esse organismo poderá pressionar pela continuidade das obras, acionando a imprensa e TV para mostrar as obras paradas e as comunidades impactadas. Ousamos ainda, sugerir que o movimento seja chamado de “Engenharia Cidadã”!
Nesta edição em que celebramos os 30 projetos vencedores eleitos pelo Júri Independente do 5º PRÊMIO INOVAINFRA de inovação na Engenharia e Operação da Infraestrutura, queremos convocar as entidades de engenharia e suas associadas a contribuir com seus conhecimentos e experiência para combater as falhas da infraestrutura urbana nas cidades brasileiras, em especial nas periferias, e reduzir efetivamente a eterna escassez de habitação social.