"Este é um assunto encerrado." Simples assim. E quem acompanha o caso do enriquecimento rápido de um figurão da República fica com a cara de espanto.
O jornal exibe a fisionomia da personalidade política. O homem tem jeito bonachão. Expressa-se com fala mansa. Aprendeu a ser didático. Nas conversas e nas manifestações públicas é cauteloso e costuma dar explicações, as mais elementares, como se estivesse puxando o fio de profundas reflexões. E sabe preservar intimidades.
Tem o perfil de quem acolhe confissões, mas se cuida para não dar com a língua nos dentes. É um túmulo. Contudo, os jornais não largam a presa. Apuram que ela multiplicou por 20, em apenas quatro anos, o patrimônio que disse possuir. E pode adquirir um apartamento de R$ 6,6 milhões, quitando-o em duas vezes.
O zé-povinho fica sem entender. Ou entende e faz de conta que o assunto só diz respeito mesmo àquela elite dos novos ricos, que se encontra lá em cima, julgando-se inacessível para todo o sempre. No fundo, tem consciência do que sobra para os desiguais: caso venha a cair na malha fina por causa de alguns trocados, precisará de longas horas de espera, às vezes até de dias, para comprovar, junto à burocracia da Receita, o equívoco ocorrido em suas contas, tantas as exigências que lhe cobram.
Mas, no caso do figurão, outros figurões aparecem de repente no noticiário para dizer que são solidários com a personalidade que conseguiu a multiplicação dos pães. E, outro figurão da República se apressa a tentar por uma pá de cal nas bisbilhotices da imprensa, dizendo: "O assunto está encerrado. É uma página virada".
Fonte: Estadão