Vamos andar por alguns centros urbanos. Não é necessário parar no Terreiro de Jesus, em Salvador. Sequer fixar algumas fachadas de azulejos, em São Luís. Muito menos parar no miolo do Recife ou à beira do porto. Em todos esses lugares e em todas as capitais brasileiras os centros têm uma história própria para contar. É uma história que vem de longe e mostra como essas cidades foram estruturadas, se desenvolveram e, finalmente, como as suas administrações esqueceram os núcleos a partir dos quais elas se tornaram metrópoles.
Pois é. Os centros urbanos foram esquecidos. Por isso, em sua maior parte, estão degradados. E, com o crescimento e a infraestrutura proporcionada aos bairros periféricos, sobretudo àqueles onde abundam os condomínios fechados, os velhos centros urbanos acabaram negligenciados e, muitos, entregues à própria sorte, o que significa dizer, à sorte nenhuma.
O que se pratica contra os centros urbanos é um crime. Vai-se, aos poucos, dilapidando um patrimônio que pertence à história e que, por conta disso, deveria ser preservado. Algumas administrações até tentam fazer alguma coisa. Mandam colocar uma demão de tinta em algumas fachadas. As primeiras chuvas se encarregam de desnudar a farsa: a tinta some e estrutura se esboroa, comprometendo outras edificações que documentam a passagem dos tempos.
Com o abandono completo ou parcial dessas áreas, elas ficam entregues à delinqüência. O valor histórico, turístico, humano, civilizatório, enfim, dos velhos centros urbanos, deveria pesar na avaliação das administrações públicas, toda vez que se volta para a periferia endinheirada, em detrimentos dos velhos centros, que são o centro de tudo.
Fonte: Estadão