CRCC chinesa deve participar das concessões do modal no Brasil

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No noticiário da imprensa brasileira sobre a visita do presidente da China, Xi Jinping, em julho passado, consta a assinatura de um protocolo de intenções referente a investimentos chineses na infraestrutura nacional, com destaque para a próxima rodada de licitações de linhas ferroviárias, na qual a participação da estatal CRCC-China Railway Construction Corp. é dada como certa.
 

A história dessa empresa se confunde com o próprio país e ela já fez parte do Ministério de Ferrovias. Foi desmembrada anos depois, incorporada em 2007 e listada nas bolsas de Xangai e Hong Kong. Seu faturamento em 2013 foi de US$ 97,66 bilhões e possui 246 mil empregados. É considerada a construtora chinesa que mais cresceu no exterior, com projetos hoje em mais de 60 países, começando pela primeira obra que foi a ferrovia Tanzam, ligando Tanzânia a Zâmbia, até o maior projeto atual — o programa de modernização ferroviária na Nigéria, ao custo de US$ 8,3 bilhões.

 

 

Em junho passado, a primeira ligação ferroviária moderna na Nigéria construída pela CRCC havia alcançado 100 km de extensão no percurso entre Abuja e Kaduna. A linha segue os padrões de primeira classe das ferrovias chinesas para carga pesada. O contrato dessa obra foi assinado em 2006 e prevê ligar a capital Lagos com Kano ao norte, num percurso total de 1.315 km, e inclui também o treinamento do pessoal operacional. Uma das empresas envolvidas, a Lagos Consultancy, informou que a despeito de dificuldades e desentendimentos no início do projeto, o padrão da obra é excelente e está de acordo com as especificações contratadas pelo Ministério dos Transportes local, que tem ainda uma consultoria italiana no gerenciamento.

 

O estado deplorável do transporte ferroviário na Nigéria, com 4.300 km de trilhos, fica evidente com a notícia publicada pelo site de um jornal local em 23 de março de 2011: “A ferrovia nigeriana está de volta para valer.” A matéria descreve a viagem feita por jornalistas a bordo de um trem gratuito, de oito carros, saindo da estação Iddo, em Lagos, às 9h35 da manhã. À baixa velocidade, ele chegou a Mushin às 10h, onde uma pequena multidão estava para testemunhar a passagem do trem. Duas dezenas de passageiros, executivos da estatal nigeriana e seis jornalistas embarcaram no vagão VIP, que comporta 98 pessoas, com ar condicionado, ventiladores, televisão etc.

 

“O ruído produzido pelo trem nos trilhos dificultava a conversação entre os passageiros. Às 11h o trem chega a Ijoko, onde começa uma linha nova e 50 pessoas embarcaram. Alguém comenta que a viagem do trem é mais rápida do que o ônibus. Quando o trem passa pela fábrica de cimento Ewekoro, vê-se caminhões carregados de sacos de cimento que um trem transportaria mais barato e em maior quantidade. Às 12h48, após três horas, o trem chega a Abeokuta, depois de parar em cada estação no caminho, ao longo do qual muitos moradores acenavam para a composição que por ali não passava havia anos.”

 

As ferrovias têm uma trajetória de 130 anos na China, começando em 1876 quando comerciantes ingleses construíram a linha Xangai-Wusong, de apenas 15 km. No ano de 1949, a rede ferroviária já somava 21.800 km mas, por causa da guerra, apenas 10 mil km operavam. A República Popular da China recuperou toda a rede até fins de 1950, construiu novos trechos, como Chengdu-Chongquing e Chengdu-Kunming, e expandiu as linhas a 48.600 km em 1978. Em 1996, a ferrovia Beijing-Kowloon entrou em serviço, com seus 2.553 km, atravessando nove províncias até a parte continental de Hong Kong.

 

Mas é no segmento de trens de alta velocidade que a China tem construída sua fama — embora o pioneirismo tenha sido do Japão com o Shinkansen (trem bala) seguido pelo TGV francês. Em meros cinco anos, a rede de TAV chegou a 10 mil km, mais do que a Europa toda. A primeira linha ligou Beijing ao porto próximo de Tianjin em 2008; agora mais de 100 cidades estão interligadas, inclusive da capital até Shenzhen na divisa com Hong Kong, em um percurso de 2.400 km. Os TAVs levam mais de 2 milhões de passageiros/dia, cerca de um terço do total transportado sobre trilhos na China. Essa é a linha TAV mais longa no mundo; cruza seis províncias e 28 cidades, e chegará a Hong Kong em 2015.

 

Competência técnica e financiamento não parecem ser obstáculos para CRCC construir sua primeira ferrovia no Brasil. Mas a legalização de engenheiros e trabalhadores chineses perante a lei brasileira pode ser um problema, bem como a importação de locomotivas, vagões e trilhos – práticas essas costumeiras entre as construtoras da China quando executam obras no exterior, que já criaram alguns conflitos, inclusive na África, na questão da mão de obra.

Fonte: Revista O Empreiteiro


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