Ética, um aprendizado difícil

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A corrupção de hoje pode ser o ensaio para a corrupção de amanhã. Parece tolice imaginar que a descoberta de escândalos pode ajudar no aprendizado da moral e dos bons costumes. A esperteza subsiste explícita ou dissimulada. Insinua-se pelos gabinetes, pelas empresas e pelos órgãos contratantes. E, quando as cartas se revelam claras, sem indícios de que estejam eventualmente marcadas, vem a frustração: o jogo supostamente limpo era apenas o terreno escorregadio que levava ao pântano.

É muito triste ver que até as maiores figuras da Repúblicas tentam driblar o TCU, procurando desacreditar os relatórios em que ele aponta irregularidades em projeto, sobrepreço, orçamentos costurados na perna, inadequações. Contra tais inconveniências, que retardam as obras, há o vitupério inspirado nos prazos políticos, quando sobejamente está comprovado que estes são a pior coisa que pode acontecer contra os prazos técnicos e as soluções exequíveis.

Lembro outros tempos, outras obras. O escândalo chegou a ser de tal ordem, que até aqueles que já se julgavam impotentes diante da prática escandalosa continuada, se rebelaram. E veio a Lei 8.666, promulgada em 1963 pelo presidente Itamar Franco. Com o passar dos anos verificou-se que ela possuía o seu calcanhar de Aquiles. Se parecia boa de um lado, de outro se mostrava desfavorável. De certa forma esperava-se que ela bloqueasse, na raiz, as causas da corrupção desregrada. Não conseguiu.

É que a corrupção tem várias rotas de fuga. Se é golpeada hoje, amanhã já está de pé preparando novas investidas. Veja-se o caso do mensalão e, mais recentemente, o episódio de Brasília.

E quando se julgava que as coisas estavam assim, nos limites de corpos estranhos, lá vem a denúncia, publicada na imprensa, sobre o que ela está chamando de "consórcios paralelos".

Não se sabe quando isso vai ter fim. O que se sabe mesmo é que amanhecemos, todos os dias, conscientes de que continuamos a ser vítimas.

Fonte: Estadão


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