Artigo do professor Alfredo Bosi, da USP, publicado na FSP de ontem (21), aumenta o conjunto de argumentos contrários à construção de usinas nucleares, dando o nome de vários especialistas brasileiros que "alertam para o caráter desnecessário da energia nuclear no Brasil", um vez que "as potencialidades de nossa biomassa , bem como outras fontes renováveis, fornecem base segura para um desenvolvimento sustentável".
As críticas a esses empreendimentos recrudesceram por conta do desastre da usina de Fukushima, que o governo do Japão decidiu desativar depois que ela foi danificada pelo terremoto e pelo tsunami que abalaram o norte daquele país em março deste ano.
Os argumentos são reforçados pelas notícias do referendo, realizado na Itália, cujo resultado repudia construções nucleares, e aquelas referentes à decisão do governo da Alemanha, que suspende programas desse tipo.
O artigo questiona as iniciativas para a continuidade da construção de Angra 3 e vem a favor da discussão suscitada pela decisão do governo brasileiro de colocar em andamento o plano para construir pelo menos mais quatro usinas nucleares até 2030.
A análise dos acidentes nucleares, maiores ou menores, ocorridos no mundo, além daquele que provocou destruição em Fukushima, mostra, segundo o artigo do professor Bosi, que nenhum cientista pode jurar, até hoje, de pés juntos, que as sinas nucleares tenham risco zero e que "não há dinheiro que possa indenizar câncer hepático ou leucemia nas crianças vítimas dos vazamentos".
A questão que o professor coloca é muito clara: se nenhum especialista no assunto pode atestar que o risco é zero, a dedução lógica é de que o perigo continuará a existir, sejam quais forem as medidas preventivas adotadas para construí-las e operá-las.
Nesse caso, há uma questão que teoricamente se sobrepõe às técnicas empregadas na construção das usinas nucleares: a ética, que deve ser colocada acima dos raciocínios simplistas, a exemplo daquele exposto pelo ministro Edison Lobão, de Minas e Energia, que disse à imprensa: "As dificuldades que as usinas de lá (Japão) tiveram, as nossas não terão, pois temos uma proteção maior."
Fonte: Estadão