Vinha me preparando para assistir ao debate. Um cuidado dispensável, se considerar que o canal de televisão que o organizava já difundia, exaustiva e monotonamente, em todas as ocasiões, em horário nobre ou não, o anúncio de qundo, como em que circunstâncias ele seria realizado. De sorte que, na noite do dia D, lá estava eu diante da telinha, observando a chegada do José Serra, Dilma, Marina e Plínio. Talvez, por causa da expectativa artificialmente criada, imaginasse que daquele mato sairiam coelhos. Mas não saiu nenhumzinho.
Um debate sugere a arte de esgrimir ideias. Expô-las com clareza, defendendo-as ou atacando-as. Mas sem que o eventual adversário renda-se ao medo do contraditório, por antecipação. O que houve ali foi aparentemente um acordo de cavalheiros. Como se um disesse ao outro: "Você não ataque, que eu não atacarei". O conciliábulo insosso continuaria assim, até o final, não fosse a interferência de Plínio Sampaio, que se manteve no papel de livre-atirador, com direito a arranhar o comportamento bom-mocista dos outros participantes.
Longe o tempo de um Arraes, Brizola, Brossard, Lacerda. Gente que, além da entonação, expunha ideias, sem medo de defendê-las ou de desafiar aqueles que supunham tê-las, quando apenas eram poços vazios.
Ali, diante da telinha, Serra descorreria sobre mutirões na saúde. Dilma não tinha do que se defender; apenas manipulava números que, naquele momento, não poderiam ser contestados. Marina era uma máquina de falar. Bastava que lhe dessem corda, ela falava; quando lhe puxavam a corda, ela imediatamente calava, sem que a interrupção de uma frase jamais fizesse falta a uma outra. E, Plínio, privilegiado, se divertia.
O debate foi uma prévia, sim, para uma eleição que não tem como empolgar a população, tão lastimavelmente refém do marketing oficial, infiltrado, como uma rede, em todas as atividades de comunicação.
Fonte: Estadão