A Ponte de Guaratuba, projeto aguardado há mais de meio século pelos paranaenses, conectará os municípios de Guaratuba e Matinhos, no Paraná. A obra prevê a construção de uma ponte estaiada
sobre o mar e seus acessos urbanos, apresentando desafios complexos de engenharia relacionados
a condições estruturais, climáticas, efeitos de maré e interferências urbanas, além de uma alta
sensibilidade ambiental. Uma das particularidades dessa obra consiste na presença de uma linha de
transmissão de 138kV que cruza a baía, passando pela área de construção da ponte estaiada,
próximo ao mastro central ( Figura 1 ). Para verificar as interferências e identificar a solução mais
segura e eficiente para a execução da obra, o Consórcio Construtor optou por realizar o
aerolevantamento topográfico da região em conjunto com os modelos tridimensionais.


“As obras exigem cada vez mais decisões rápidas e baseadas em dados confiáveis. O uso da inovação na engenharia tem feito toda a diferença. Obter dados que antes levaria dias ou semanas, hoje conseguimos com muito mais agilidade e precisão.”
O projeto iniciou-se com a identificação de dois problemas. O primeiro consistiu na limitação do
levantamento topográfico com estações totais em balsas, sendo utilizados drones de alta precisão
para capturar imagens e dados geoespaciais. Essa abordagem, visando superar as limitações dos
métodos tradicionais, reduziu os riscos de imprecisão causados pelo movimento das ondas, ventos e
marés nas balsas, aumentou a velocidade de execução do serviço e segurança no processo, e
proporcionou maior confiabilidade nos resultados.
Em um segundo momento, identificou a dificuldade no levantamento das linhas de transmissão. A
estação total, mesmo sendo de última geração, não conseguia detectar os cabos, por este serem de
pequeno diâmetro e por estarem em constante movimento, além de não ser possível a visualização
espacial e tridimensional, algo que dificultava a verificação de possíveis interferências. Para mitigar
esses riscos, o projeto executivo foi desenvolvido utilizando o BIM, seguindo um Plano de Execução
BIM (BEP) elaborado em colaboração com o cliente.
Após o tratamento dos dados, o aerolevantamento foi integrado ao modelo BIM, permitindo a
visualização e identificação de potenciais interferências, especialmente com a linha de transmissão.
A equipe de engenharia realizou a compatibilização da linha existente com o projeto da ponte,
garantindo uma análise completa e precisa.


“Ao trazer a inovação, buscamos antecipar as interferências e integrar as diferentes disciplinas com mais eficiência. A integração do BIM com o aerolevantamento transformou a forma de conduzir o processo de interferências.”
O fluxo de informações para a elaboração do modelo BIM foi estruturado para assegurar a
compatibilidade e integração dos dados produzidos pelas diferentes equipes envolvidas. Ao todo
eram quatro empresas* responsáveis tanto pela modelagem dos elementos estruturais da ponte,
desenvolvimento do projeto de acessos e realização da compatibilização dos modelos, levantamento
e análises e definições das soluções de engenharia, com destaque para o papel do topógrafo
familiarizado com as ferramentas BIM na integração dos dados de aerolevantamento ao modelo 3D.
Consórcio Nova Ponte | Consórcio construtor formado pelas empresas Odebrecht, Carioca Engenharia e Gel Engenharia |
Outec | Elaboração do projeto BIM da Obra de Arte Especial (OAE), incluindo a modelagem dos elementos estruturais da ponte. |
Intertechne | Desenvolvimento do projeto dos acessos e pela compatibilização dos modelos da OAE e dos acessos, garantindo que ambas as partes estejam completamente integradas e coordenadas. |
PRGEO | Utilizando drones de alta precisão, realizou o aerolevantamento dos pontos críticos necessários para a análise das interferências e outras demandas técnicas do projeto. |
Um dos principais desafios identificados foi a natureza “fast track”, isto é, o projeto e a execução
ocorrem simultaneamente. Essa situação pode resultar na identificação tardia de interferências, o
que dificulta o processo de tomada de decisão, considerando o tempo necessário para o
desenvolvimento do modelo BIM é relativamente longo comparado à urgência das respostas para
ajustes no projeto.
A utilização do BIM e do aerolevantamento com drones mostrou-se uma metodologia eficaz para o
projeto da Ponte de Guaratuba. A integração do modelo BIM com os dados precisos obtidos pelos
drones permitiu uma análise abrangente das interferências, otimizando o projeto e minimizando
riscos durante a construção. A visualização tridimensional e a capacidade de simulação
proporcionadas pelo BIM facilitaram a comunicação e colaboração entre as equipes, agilizando a
tomada de decisões e a resolução de conflitos.
Os resultados positivos dessa abordagem incluem a redução significativa de custos e prazos,
melhoria na segurança dos trabalhadores e maior precisão dos dados. A diminuição de 74% nos
custos e 77% no tempo de levantamento topográfico, juntamente com a eliminação da necessidade
de acesso a áreas de risco, demonstram a eficiência e os benefícios da metodologia.

“Acompanhei a evolução de diversos equipamentos. Para o levantamento ‘primitivo’, a junção do
aerolevantamento com o BIM é a que trouxe maior ganho de produtividade e qualidade.”
O sucesso da aplicação do BIM e aerolevantamento na Ponte de Guaratuba reforça o potencial
dessas tecnologias para projetos de infraestrutura complexos, incentivando a adoção de práticas
inovadoras na engenharia nacional.