Com o nome de Guará, uma embarcação de serviço autônomo (USV, do inglês Unmanned Service Vessel), realizou, pela primeira vez, levantamentos hidrográficos (LH) para atualização cartográfica da Marinha do Brasil. As cartas náuticas são cruciais para a navegação, abrangendo dados como profundidade, obstáculos submersos, sinalização náutica e condições marítimas. A atualização periódica é vital para garantir a segurança, considerando mudanças no fundo do mar, infraestruturas portuárias e auxílios à navegação.
Com intuito de fazer esses levantamentos hidrográficos, a CIPP S/A, uma joint venture entre o Governo do Ceará e o Porto de Roterdã, que gerencia o Complexo Industrial e Portuário no Pecém, criou o projeto Guará a fim de realizar os estudos necessários para a Marinha, de forma autônoma, ou seja, sem tripulação humana. A CIPP oferece soluções para áreas industriais e na Zona de Processamento de Exportação (ZPE Ceará), movimentando cargas no Porto do Pecém, no litoral nordestino.
Em 2023, o complexo registrou movimentação de 17,4 milhões de toneladas, com destaque a movimentação recorde de containers de 482.930 TEUs. No caso da embarcação Guará para o levantamento à Marinha, foram realizados, concomitantemente, uma batimetria multifeixe e um estudo de sísmica rasa na área de fundeio dos navios petroleiros, na área proposta para um novo canal de acesso e na área interna e adjacências do porto, totalizando uma cobertura de 18,29 km2. Três autorizações para este levantamento foram emitidas pelo Centro de Hidrografia da Marinha (CHM), antes do início da sondagem. A empresa WAMS Subsea Technology Solutions foi contratada pela CIPP S/A para a execução deste projeto.
SOBRE O FUNCIONAMENTO DO USV
O Guará é um USV Drix de fabricação da francesa iXBLUE e foi utilizado para o levantamento hidrográfico, coletando dados em tempo real. A embarcação foi equipada com ecobatímetro multifeixe teledyne T50-ER, receptores GNSS, sensor inercial Phins da iXBLUE, dentre outros equipamentos auxiliares. Para o estudo da estratigrafia do solo marinho, foi empregado um Subbottom Profiler (SBP) para mapear interfaces no subsolo. O Guará, percorrendo as linhas programadas autonomamente, conduziu também perfilagens da velocidade do som na camada de água que foram submetidos a tratamento de dados realizados nos softwares Qimera e Caris HIPS&SIPS.
Os resultados foram enviados para avaliação do Centro de Hidrografia da Marinha. O estudo demandou 147,5 horas de sondagem, totalizando 1.260,2 km de navegação. A velocidade média de navegação foi de 7,1 knots. A operação aconteceu com boas condições de tempo, com ventos médios de 8,6 m/s, e estados de mar grau 4 segundo escala Beaufort. O levantamento batimétrico seguiu as diretrizes da NORMAN 501 da Marinha e da publicação S-44 da Organização Mundial de Hidrografia (OHI) e atingiu um excelente resultado, classificado como de Ordem Especial segundo a S-44, sendo aproveitado pelo Centro de Hidrografia da Marinha (CHM) para atualização cartográfica.
É o primeiro trabalho do tipo no Brasil a usar embarcação tipo USV. O consumo de combustível em todo o levantamento foi de apenas 502,5 litros, performando uma média horária de 3,41 litros/ hora, destacando-se como vantagem competitiva quando comparado ao uso de embarcações convencionais. A redução drástica da emissão de CO2 se alinha com as melhores práticas de sustentabilidade ambiental. Para a CIPP, a utilização inovadora do Guará não só aumentou a eficiência operacional, mas também reforçou a segurança da equipe de sondagem, eliminando os riscos associados à exposição humana a condições adversas a bordo.
Os resultados obtidos evidenciam a viabilidade técnica e benefícios econômicos e ambientais da implementação dessa tecnologia, e abrindo perspectivas para futuros projetos similares ao longo da costa brasileira.
AUTOR
Felipe de Azevedo Guimarães
Gerente de Inovação