A fala da ministra Miriam Belchior, do Planejamento, dando a ideia de que, caso as obras de infraestrutura de transportes, nas cidades-sede da Copa, não fiquem prontas a tempo, tal problema poderá ser resolvido com a decretação de feriados, apresenta, em nosso entendimento, pelo menos três impropriedades elementares.
Primeiro, ela instiga a dúvida. Instiga ou aumenta. E, o que ainda poderia estar no terreno escorregadio das possibilidades, passa a ter uma conotação de quase certeza. Ora, se até a ministra, leia-se governo, já prevê que obras de infraestrutura poderão não ficar prontas a tempo, o que dirá o povão, diante da realidade que está à vista nos portos, aeroportos, metrôs, trens urbanos e outros mecanismos de mobilidade?
Segundo, a difusão de que a decretação de feriado poderá ser a solução do problema, sequer pode ser encarada como meia verdade. No fundo, é uma mistificação ou uma maneira de fugir ao problema. – Como se decretar feriado em dias de extremo congestionamento em são Paulo pudesse ser a solução para o caos no trânsito da Pauliceia. Textualmente, a frase da ministra, a esse respeito: "Se eu der feriado no dia do jogo, a cidade vai estar em condições de não ter trânsito para a locomoção de torcedores".
E, terceiro, falemos da terceira impropriedade da fala ministerial. Ela diz que a mobilidade urbana "é um legado para as cidades, mas não são investimentos essenciais para a operacionalização da Copa do Mundo." Pois daqui desse cantinho queremos lembrar, à senhora ministra do Planejamento, que o mais importante para as cidades são o legado que a Copa pode deixar para esta e para as próximas gerações.
Os investimentos a serem feitos não devem virar fumaça, mas se materializarem em obras em favor da cidadania, em metrópoles já tão desnaturalizadas e desfiguradas pelos que entendem que cidades são acampamentos e não ambientes onde o processo civilizatório constrói o amanhã.
Fonte: Estadão